Mais um Rubem
"- Já ouvi acusarem você de escritor pornográfico. Você é?"
"- Sou, os meus livros estão cheios de miseráveis sem dentes".
Trecho do conto Intestino Grosso
Há 30 anos eu e milhares de brasileiros líamos o texto acima e era como se aquele livro nos esbofeteasse. Meu Deus! Eu mal havia deixado meus livros infantis e os romances da Agatha Christie!
O livro em questão era o Feliz Ano Novo, que havia saído no final de 1975, pela já finada Editora Arte Nova. Naquele natal, se você tinha alguém exigente e inteligente para presentear, a escolha era sempre a mesma: Feliz Ano Novo. Por este motivo Rubem Fonseca já havia vendido 30 mil exemplares naquele final de 1976 e uma quarta edição já estava indo para o forno, quando aconteceu o inesperado: o, então, ministro da justiça, Armando Falcão, proibiu o livro em território nacional, com o seguinte argumento: "Folheei algumas páginas e vi alguns palavrões. Então, determinei: Recolha-se!"
Há trinta anos, então, os brasileiros não puderam dar Rubem Fonseca de presente de natal. O livro já havia sido retirado das prateleiras das livrarias e tinha-se que recorrer aos sortudos - como eu - que haviam conseguido seu exemplar, antes da proibição. Na escola, nas festas, nos bares e praias, as pessoas discretamente sussurravam nos ouvidos das outras: "Me empresta o Feliz Ano Novo." O medo se justificava, pois você poderia ser preso ao carregar o tal livrinho, que só seria liberado, assim mesmo pela justiça, em fins de 1989. O próprio Rubem correu o risco de ser preso, por ordem de um senador da ARENA, o partido do governo militar, que acusou o autor de praticar um atentado ao pudor. Mas, ao ler o trecho acima, percebe-se que a ira do governo não era bem por causa dos palavrões.
Trinta anos depois gostaria de ganhar o mais recente livro deste, que, para mim, é o maior contista brasileiro de todos os tempos. Como amante da literatura polical tenho a maior admiração por este mineiro de Juiz de Fora, que mandou bala em livros como A Coleira do Cão, Lúcia McCartney, Romance Negro e Outras Histórias. Todos de contos, sim. Porque gosto mais do Rubem contista, embora ele também tenha publicado excelentes romances como O Caso Morel, A Grande Arte e Agosto.
E é justamente um livro de contos que a Companhia das Letras está lançando agora. São pequenos contos, todos com nomes de mulheres, cheios de histórias erótica e românticas. Alguns já foram mostrados em sites literários por aí, e achei uma delícia. Alguns críticos não gostaram. Mas, pelo menos, como há 31 anos atrás, já tenho um presente para dar e receber neste natal.
16 Comments:
Bela pedida, Julio. Grande abraço!
Oi Julio,
muita gente acha o Ruben Fonseca chato. Pra mim, sinceramente, ele não faz parte das minhas preferências. É que sou complicada quando a parada é livro ...ou bate comigo, ou nunca mais leio o autor.
Depois desta tua apologia, vou anotar a dica. Pode ser que a chata seja eu, né?
Beijos
Eram mesmo impressionantes os motivos que deram para proibir o livro,hem JULIO.
Aposto que o tal Falcão soltava seus palavrões...
Abraços!
Estou lendo Agosto dele e estou com um projeto que homenageia ele. Abraço.
Buenas.
Júlio, estou lendo "A Gorda do Tiki Bar", do Dalton Trevisan. Eu creio que há um empate técnico neste quesito entre o mineiro e o curitibano.
Você tem razão: ótimo para presentear e ser presenteado neste Natal. Para que todos tenhamos um Feliz Ano-Novo.
Grande abraço.
Ja li esse livro acho no final da decada de 80..quanto ao filme..triste...ja vi aqui varias vezes e nao conseguir comentar...dessa vez deu certo
Eu li um livro ótimo do Rubem, chamado O cobrador. Eu acho ele maravilhoso. Ele é debochado, tem humor negro. Eu adoro... Abs
Alô, Júlio! Tempão sem aparecer, mas aqui vou.
Acho que a resposta, no trecho entre aspas, diz tudo. Aparece no Albergue. Abraço!
Júlio:
Eu fui um dos felizardos que conseguiu o livro antes dele ser censurado.
Você tem razão em relação ao Rubem Fonseca, que, como Dalton Trevisan, é um excelente contista.
"Agosto" está entre os cinco melhores livros que já li nestes meus poucos anos de vida. Li e reli. Os contos do Rubem são bons, mas os romanes são geniais. Abraço.
tambem nao ligo se alguem quiser me dar esse ai de presente...nao precisa ser no natal...pode ser a qualquer momento...
É isso aí. Mais um Rubem, mais um livro para ler. Ele vai aumentar a montanha de "livros a ler" em meu criado mudo. Mas posso dar uma roubadinha e colocá-lo em cima, não?
Lembra que os livros da Artenova se desmanchavam, que as folhas se descolavam e a gente terminava o livro lendo folha por folha? Até sinto saudades.
Grande abraço.
Suscitou minha curiosidade!
Abraços meu amigo
Júlio, para dizer a verdade Rubem Fonseca não faz parte das minhas leituras, mas depois do que vc escreveu, vou pensar com mais carinho.
E depois tem gente que diz que na época dos militares era melhor...fala sério!!!
Bjos.
Li tudo de Rubem Fonseca.
É o único escritor que ainda tenho realmente saco pra ler.
:)
abç!
Alguém poderia me ajudar, então? Estando no exterior, li o conto "O balão fantasma" do livro "O buraco na parede". Em francês o nome do balão é "L'enculé", cuja tradução não me parece boa. Alguma alma caridosa poderia me dizer como é o nome do balão no original? Muitíssimo obrigada!
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