terça-feira, setembro 27, 2005

O TAXISTA E A PUTINHA


“- Eu posso tirar você deste lugar, eu posso mudar sua vida, menina.
- E eu posso chupar o seu pau por apenas dez dólares.”

Diálogo entre o taxista e a vagaba di menor, em Taxi Driver.





HÁ QUASE TRINTA ANOS, UM TAXISTA E UMA PUTA DI MENOR ERAM NOTÍCIA

Mas não nas páginas policiais e sim, nos segundos cadernos do mundo inteiro. Taxi Driver, a película que levou Martin Scorcese até o andar dos maiores diretores do cinema americano, acaba de ser lançada em DVD e é uma ótima dica – não vou dizer obrigatória para não ser chato – tanto para os amantes do bom cinema, quanto para quem gosta de curiosidades.
Para se entender melhor Taxi Driver, é preciso entender os EUA naquele meio da década de 70. Bem, Nixon havia renunciado em agosto de 1974, fugindo de um possível processo de impeachment. O vice Gerald Ford assumiu e encarou uma das piores crises econômicas da história americana, com um cenário de greves, inflação crescente e o maior nível de desemprego desde a Grande Depressão. Ford, sem carisma e indeciso, passava a impressão de estar perdido, enquanto a nação esperava por medidas drásticas. A vergonhosa retirada das tropas e funcionários da embaixada americana no Vietnã, após a derrota na guerra, que completava dez anos, foi a gota d´água para que a auto-estima do país descesse tanto, que as minhocas olhavam para baixo e debochavam dela.
Nova Iorque foi a cidade que mais sofreu com a crise. Acostumada a sempre receber generosas ajudas federais, agora, a metrópole tinha que se virar sozinha, como um adolescente que foge do lar confortável e se vê na rua da amargura, esquina com a avenida do desespero. No verão de 1975, quando Taxi Driver começou a ser rodado, a cidade estava à beira da falência. Sem o socorro federal, os novaiorquinos passaram a ter que conviver com ruas cheias de lixo, a iluminação deficiente, sem-tetos e ratos por todos os lados, prostituição, crimes, tráfico de drogas e delinqüência. Nos guetos e bairros pobres, os moradores incendiavam seus imóveis para receber o seguro, já que se conseguissem vendê-los, receberiam bem menos.
E é nesse cenário de degradação e decadência, que Travis Bickle (Robert De Niro na melhor forma), um veterano do Vietnã de 26 anos, circula com o seu táxi. Travis é um bom sujeito, honesto, pacato e cheio de boas intenções. Parece um E.T. num mundo cheio de corrupção, violência, miséria e imoralidade. Seria apenas mais um solitário da metrópole, se, após ser desprezado pela bela Betsy (Cybil Shepard) e ter fracassado em salvar a prostituta adolescente Íris (Jodie Forster, na época com apenas 12 anos), não tivesse surtado, achando que poderia acabar sozinho com toda a podridão que via a sua volta.
Para contar esta história de solidão e violência, Scorcese optou por criar um clima noir, em que a música de Bernar Herman cai como uma luva na Nova Iorque suja, violenta e sinistra daquela época. O próprio Scorcese faz uma ponta no filme, como o marido traído que quer matar a esposa.
Taxi Driver é o elo numa corrente do cinema americano que havia começado com o revolucionário Perdidos na Noite (Midnight Cowboy), de John Schlesinger, em 1969, quando Hollywood ousou a olhar para os excluídos, lhes dando papeis de destaque. Isso já havia sido feito antes, mas não com visão tão humanista e carinhosa. Antes, filmes como O Homem do Braço de Ouro, em que Frank Sinatra interpreta um músico viciado em heroína, por exemplo, mostrava apenas uma visão do tipo “Vejam o que acontece no submundo, o mundo ao qual, graças a Deus, não pertencemos”. Mas nos incendiários anos 60, uma nova geração de diretores – como Scorcese – deixavam as universidades com uma visão social e política incendiária. E estavam decididos a fazer filmes que pareciam dizer: “Enquanto você está aí confortável nesta poltrona de cinema, seu babaca. Veja como nossos irmãozinhos excluídos estão vivendo.” Durante a primeira parte da década de 70, esta preocupação com os que viviam a margem da sociedade foi uma constante. Filmes como Operação França, Superfly, Um Dia de Cão, Nashville e O Estranho no Ninho, são um exemplo. Mas nenhum foi tão contundente quanto este Motorista de Táxi. Enquanto dirige o seu amarelinho, o olhar moralista e atônito de Travis parece procurar documentar nervosamente a decadência de uma Nova Iorque, que felizmente, não existe mais. É com se o espectador fosse o passageiro e o motorista dissesse: “Olha lá aquele viciado! Veja quantas prostitutas! Saca só os moleques tacando pedras no meu carro. Você viu aqueles coroas bêbados brigando no meio da rua, à luz do dia?” Sim, a cidade é mais uma personagem do filme.
Asssiti a Táxi Driver no velho cinema São Luiz, no Largo do Machado, assim que estreou, em 1976. Fui com a minha irmã e o meu futuro cunhado. Depois, fomos discutir sobre o filme no velho Lamas, que dois anos antes havia comemorado um centenário e que seria fechado pouco depois, devido às obras do metrô. Muita gente fez o mesmo. Assim como acontecia nos EUA, no Brasil, grande parte do público foi assiti-lo por causa do alvoroço que a imprensa fez em torno das cenas de violência – que são ridículas perto das mostradas hoje. Mas Taxi Driver é muito mais do que apenas um filme violento. Chega a ser quase um documentário de uma época, tão realistas são suas cenas, o que não seria possível sem o excelente desempenho do diretor, dos atores e de toda equipe.
Aliás, toda a ficha técnica e mais curiosidades, prêmios e outras informações, podem ser encontradas no site http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/taxi-driver/taxi-driver.htm. Uma das curiosidades é que Robert De Niro trabalhou doze horas, durante um mês para compor o seu personagem. Vale a pena dar uma olhada.


Iris e Travis, quem diria? Terminaram em DVD

“É triste ter o desejo como inimigo.”
Virgínia Brandão, a personagem atormentada do meu romance policial A Arte de Odiar, que aliás, já está no prelo. Aguardem!


UM BANQUINHO E UM CONTO NA MÃO. DE NOVO

Antes tarde do que nunca. Aqui estão os registros de mais um Sarau de Santa, no último dia 10, na livraria Largo das Letras. Como já falei, um antro de gente inteligente; um covil de pessoas interessantes.



Diana de Hollanda dando a cara a tapa,...




...assim como Flávio Izhaki,...




...Henrique Rodrigues,...




...Guilherme Tolomei,...



...David Cohen, e...



...eu.



E tudo terminou naturalmente na mesa do Simplesmente.














2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Eu estava lá!

sexta-feira, setembro 30, 2005 12:49:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Esqueci de dizer que eu estava lá no LARGO DAS LETRAS... antes que pensem que eu também estava no táxi.

Abraço.

sexta-feira, setembro 30, 2005 1:00:00 AM  

Postar um comentário

<< Home