A Música da Minha Vida
Todo mundo tem "a música da sua vida." E essa é a minha.
O Nelson Motta conta em seu livro Vale Tudo. Tim Maia (Editora Objetiva) - há um ano na lista dos mais vendidos - que o síndico - apelido que Tim sustentou durante anos, causando tumultos e brigando com as platéias - estava na pior, em 1968, após ter sido extraditado dos EUA por porte de drogas, e teve que morar quase que de favor no quarto de um apartamento na zona sul carioca, dividido por dos amigos jornalistas. Feio, duro e obeso, Tim tinha uma dificuldade crônica para encontrar namoradas - aliás um problema que se arrastaria pelo resto de sua vida e o faria sofrer demais. O tal apartamento era um entre e sai de garotas e o pobre Tim tinha que se contentar ficar ouvindo a festa rolando nos quartos ao lado. Foi numa dessas noites solitárias, ele escreveu Azul da Cor do Mar.
Muito se fala sobre o fato de o artista compor melhor em fases de sofrimento. E nesse caso foi a mais pura verdade. Naquela triste madrugada do natal que percebi a grandeza contida na letra dessa música. Quando se aprende o ensinamento contido em suas frases, você passa a encarar a vida de outra forma. Você cresce, você amadurece, você se humaniza, você se ilumina.
Voltando no tempo, até a madrugada de natal, 25 de dezembro de 1997. Estávamos ceiando e assistindo à Missa do Galo na tv, quando o telefone toca. Corri para atender, pensando que era mais um retardatário para nos desejar coisas boas, mas, na verdade, era a atual companheira do meu pai, para me dizer que ele havia acabado de falecer.
Meu pai tinha fibrose pulmonar - resultado de anos de tabagismo exagerado - e havia sido desenganado pelos médicos dois dias antes. Mas naquela tarde eu havia estado com ele. Estava bem e fizemos planos para o ano novo. No dia seguinte, toda a família deveria visitá-lo. Por volta das 22h eu havia falado com ele por telefone. Despediu-se desejando-me toda felicidade do mundo. Nada me fazia supor que ele morreria poucas horas depois.
No momento em que recebi a notícia, eu estava diante do enorme janelão do nosso apartamento, no Flamengo. Enquanto eu amortecia o golpe, ia olhando para os apartamentos nos prédios em frente e via as famílias festejando, trocando presentes, se cumprimentando, dançando, rindo.
Poucos minutos depois, lá estava eu à procura de um táxi para tratar da transferência do corpo. Durante o caminho, fui reparando nas janelas todas enfeitadas com luzes coloridas. As pessoas nas ruas carregavam seus presentes e ainda mantinham o ar festivo. Só quem passou por uma experiência dessa sabe a solidão esmagadora que se sente nesse momento. "Meu Deus! Eu sou o único ser humano triste e arrasado na face da terra esta noite!" Tá certo, era um exagero! Mas essa é a sensação incômoda que se sente. Afinal, eu também sabia que o natal nunca mais seria a mesma coisa para mim.
Por coincidência, o rádio do táxi, começou a tocar Azul da Cor do Mar (essa que você deve estar ouvindo). E naquele momento, confesso que meus olhos ficaram cheios d´água pela primeira vez, desde que havia recebido a notícia da passagem do meu pai. Mas o Julio que desembarcou na Tijuca, onde meu pai havia estado internado, não era o mesmo que havia embarcado no Flamengo.
Quando essa música foi lançada, em 1970, eu tinha dez anos e enfrentava uma das piores fases da minha vida: meus pais haviam acabado de se separar, enfrentávamos uma dura crise financeira, eu ia muito mal na escola e acabei perdendo o ano, devido a uma hepatite que quase me matou. Eu não tinha maturidade suficiente para enfrentar problemas que deixariam até mesmo um homem adulto meio abalado. Assim como não tinha maturidade para perceber a beleza dessa letra. Minha irmã tinha esse disco, que foi o primeiro trabalho do Tim Maia, e eu achava essa música apenas bonita, na época.O Nelson Motta conta em seu livro Vale Tudo. Tim Maia (Editora Objetiva) - há um ano na lista dos mais vendidos - que o síndico - apelido que Tim sustentou durante anos, causando tumultos e brigando com as platéias - estava na pior, em 1968, após ter sido extraditado dos EUA por porte de drogas, e teve que morar quase que de favor no quarto de um apartamento na zona sul carioca, dividido por dos amigos jornalistas. Feio, duro e obeso, Tim tinha uma dificuldade crônica para encontrar namoradas - aliás um problema que se arrastaria pelo resto de sua vida e o faria sofrer demais. O tal apartamento era um entre e sai de garotas e o pobre Tim tinha que se contentar ficar ouvindo a festa rolando nos quartos ao lado. Foi numa dessas noites solitárias, ele escreveu Azul da Cor do Mar.
Muito se fala sobre o fato de o artista compor melhor em fases de sofrimento. E nesse caso foi a mais pura verdade. Naquela triste madrugada do natal que percebi a grandeza contida na letra dessa música. Quando se aprende o ensinamento contido em suas frases, você passa a encarar a vida de outra forma. Você cresce, você amadurece, você se humaniza, você se ilumina.
Não quero me fazer de vítima, mas assim como o Tim, aprendi da pior forma possível. E o agradeço por ter contribuído por aquela viagem de táxi ter, não só ter me feito chegado às lágrimas para ter forças para enterrar meu pai, em pleno dia de natal, com certa dignidade, mas também ter mudado a minha forma de encarar a vida.
Todo mundo tem "a música da sua vida". Me diz aí qual é a sua.
Marcadores: música
5 Comments:
Eu tenho muitas músicas de minha vida, pois em cada momento uma significa algo para mim..atualmente tenho gostado de ouvir uma dele tbm..rssss Interpretada pela Tania Mara que está inclusive em video-destaque em meu cantinho!!
Amei seu post.
beijos
NÃO À TOA O BALA PERDIDA ESTA NA |REDE|BLOGO||
Não consegui lembrar-me de uma em especial,JULIO. Mas fiquei muit emocionado com a sua lembrança daquela noite.
Por coincidencia,ontem passei maus bocados ao lado do meu pai . Por pouco não virou uma tragédia.
Abraços!
Adorei!
Grande Julio,
Emocionante esta sua postagem. Para a gente que perdeu o pai, fica sempre um travo amargo... E você perdeu o seu numa noite de Natal... caraco...
Vida que segue, amigo. Se o mundo inteiro nos pudesse ouvir, todos temos muito para contar. Quando vivemos uma vida digna, quando deixamos algo que marca a nossa existência, é porque combatemos o bom combate e na hora de guardarmos a fé, que a gente possa olhar pra trás e não se arrepender do que fez na vida.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Em tempo: tenho muitas músicas da vida. A trilha sonora de Somewhere in time é a música com que eu quero ser lembrado quando me for.
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