quarta-feira, janeiro 31, 2007

E eles não tinham Orkut


Você já deve ter ouvido falar deste disco.
Não? Pois nos próximos meses você ouvirá muito sobre o Clube da Esquina, já que se estará comemorando os 35 anos de lançamento desse, que foi um dos mais importantes trabalhos da nossa música e que influenciou toda uma geração.
E é um dos discos mais marcantes da minha vida.
Para mostrar o que foi o Clube e o que ele significa pra mim, preciso contar duas pequenas histórias:

História 1 – Sem Orkut, skype ou MSN
Em 1963, Milton Nascimento deixava sua cidade, Três Pontas, sul de Minas, para tentar a vida de músico em Belo Horizonte. Foi morar numa pensão que ficava num prédio do centro da cidade, onde também moravam os doze irmãos Borges, incluindo o Márcio e , que também queriam ser músicos. Os anos foram passando e Milton foi o primeiro que viu a carreira decolar, sendo convidado para defender uma música de Baden Powel, Cidade Vazia, no Festival Nacional da Canção da Tv Excelsior, São Paulo. Teve uma música sua gravada pela Elis Regina, Canão do Sal, e outra chegando à final do Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, em 1967, a inesquecível Travessia.
Mesmo sendo uma estrela em ascenção na mpb, Milton, sem Orkut, skype ou MSN, não perdeu o contato com os Borges. Eles tocavam juntos sempre que estava em Belo Horizonte. Nessa época o clube havia ganhado novos membros – Beto Guedes, Flávio Venturini, Tavinho Moura, Fernando Brant, Vermelho, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso. A esquina em questão era o cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no aprazível bairro de Santa Teresa, próximo ao centro de Belo Horizonte. Entre uma música e outra e litros de cervejas, eles gastavam suas noites, tocando, sentados na calçada.
Quando Milton passou a gravar os seus primeiros discos, havia integrantes do clube tocando em uma faixa ou outra. Mas empre houve o desejo de reunir toda a galera em um único trabalho. E o projeto foi finalmente realizado naquele 1972, neste disco que fez história.

História 2 - Adeus

Eu tenho um primo mais velho que durante os anos 60 havia sido simpatizante do PC do B. Naquele sombrio 1972 os grandes quadros dos partidos de luta armada já estavam mortos, presos ou exilados. Então, sem ter mais “peixes grandes” para prender, a repressão passou a cair em cima de quem dava ou havia apoiado à guerrilha.
Quando meu primo soube que cinco amigos haviam sido presos, sentiu que sua hora estava chegando. Foi armado um esquema familiar para tirá-lo do país. Mas já era tarde demais. Uma noite, invadiram o apartamento onde ele morava com a mulher, na Tijuca, e o levaram para o tenebroso DOI/CODI.
Pouco antes de ser preso, ele começou a se desfazer de seus objetos mais preciosos: discos e livros. Eu tinha 12 anos na época e minha irmã, 23. Para ela, ele deixou, entre outros, o seu Clube da Esquina, com uma dedicatória: “Guarde com o mesmo carinho que tivemos um pelo outro. Um beijo do seu primo que sempre te amou e sempre te amará aonde quer que esteja. Adeus.”
Por um milagre, apesar de ter sido muito torturado, esse meu primo conseguiu sair vivo do DOI/CODI. Nunca pediu de volta o disco e o Clube foi ficando lá em casa. Meu primo foi tocando sua vida, formou-se em medicina e tornou-se um respeitado ginecologista carioca. Minha irmã entrou na era do cd e deu o álbum pra mim. Muitos anos mais tarde, quando ninguém mais se lembrava do fato, houve um almoço lá em casa e mostrei o tal disco com a tal dedicatória. E foi aquela choradeira. E não podia ser diferente.
Enfim, duas histórias de amizade em torno do mesmo objeto.
Esse disco nasceu de uma bonita união entre amigos que tinham um sonho em comum. Mais bonita ainda foi a generosidade de Milton ao unir a sua galera em um trabalho seu, apenas para dar uma força aos manos. Assim nasceu o Clube da Esquina, um dos discos mais bonitos da nossa música. E não podia ser diferente.
* Aliás o Clube da Esquina é, que eu saiba, o único disco da mpb que tem uma comunidade no Orkut. É só procurar.

16 Comments:

Blogger Luma Rosa said...

Júlio, eu como mineira do Sul de Minas, não irei negar o alto valor da obra. Nos bares de Minas ainda se ouve música nos mesmos moldes de antes. Do conservatório da minha cidade natal sairam grandes músico e o último rebento; Elder Soares começa a mostrar a sua graça.
Cheguei de viagem ontem com a roupa encharcada de chão!!
Beijus

quarta-feira, janeiro 31, 2007 2:28:00 PM  
Blogger Vivien Morgato : said...

Gostei de como vc alinhavou duas belas histórias.

quarta-feira, janeiro 31, 2007 2:46:00 PM  
Blogger Jorge Ferreira said...

grande disco!...e quando discos assim teem historias assim...eles se tornam parte de nossa vida pra sempre...

uma noticia...
ta tudo certo pra eu chegar ai no rio de janeiro dia 25 de fevereiro...
fico 3 dias...
vamos nos encontrar e ouvir musica,, muita musica!

quarta-feira, janeiro 31, 2007 7:05:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Júlio,

O Clube da Esquina também fez história em minha vida. Não tão bonita quanto a sua, mas igualmente importante. Infelizmente não tenho mais o vinil, mas meu encanto pela voz do Milton continua o mesmo.

Abração.

quarta-feira, janeiro 31, 2007 9:04:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Poxa, adorei essa história. Às vezes foi na prça Benedito Calixto (SP) e lá vende um monte de antiquidades. Adoro lá, ficar c/as boas lembranças...E lá vende LP. será q tem esse?? :-))
Beijocas

quinta-feira, fevereiro 01, 2007 7:00:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Júlio,

Grande post....eles tinham muitas coisas em comum, né? eram da classe média, tinham interesse na política e ressaltaram as paradas sociais em detrimento do amor nas letras das músicas.

Beijos

quinta-feira, fevereiro 01, 2007 10:42:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Júlio:
Não só o primeiro, mas o segundo disco também é ótimo. E mostra, como você assinalou, a ligação do Milton com os que, com ele, começaram na vida artística.
Sou fã do Milton, desde Travessia.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007 11:15:00 AM  
Blogger Jôka P. said...

Também não tenho Orkut.
Mas já tive a maioria dos LPs dessa espetacular turma da esquina.
Gostava especialmente de "Minas" e "Gerais".

Abç !

quinta-feira, fevereiro 01, 2007 5:13:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Não conhecia a historia,JULIO.
Mas tem uma musica que acredito seja deste disco e que eu adoro :
clube da esquina II que é muito cantada pelo Flavio Venturini.
Abração!

sábado, fevereiro 03, 2007 10:38:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Opa! E aí, meu amigo! Continua mandando bala, hein! Abração

domingo, fevereiro 04, 2007 11:26:00 AM  
Blogger . fina flor . said...

Conheço o clube porque escuto desde criança [tenho um tio que é músico].

PIREEEEEEEEEEEI nessa versão, Julio!!

Boa semana, beijos e saudades

MM

ps1: quando vai rolar leitura de peça novamente?

ps2: você mudou para o tal blogger beta? Alguém tem que me socorrer, Julio! Não sei do que se trata, nem se devo mudar e pior, COMO mudar caso seja necessário, aff............

segunda-feira, fevereiro 05, 2007 1:18:00 AM  
Blogger Yvonne said...

Querido, sou dessa época e curti tudo que tinha direito. Clube da Esquina foi um dos divisores de água da história da MPB. Ainda bem que seu primo se deu bem. Beijocas felizes por ter voltado à blogosfera.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007 6:31:00 PM  
Blogger Jéssica said...

Belos textos, lindo Milton, disco tocante, clube necessário.
Parabéns pelo conjunto do post.
Beijos e linda noite*.*

segunda-feira, fevereiro 05, 2007 10:07:00 PM  
Blogger Arnaldo Heredia Gomes said...

Este disco é fantástico mesmo. E há muita história boa sobre o clube da esquina no livro do Márcio Borges, Os sonhos não envelhecem. Escrevi um post sobre ele no meu blog.

domingo, fevereiro 11, 2007 1:31:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Julio, o Clube da esquina tem este poder: o da amizade. Conheci muita gente boa por causa destes mineiros adoráveis; através do Orkut na comunidade "Nós somos clubeiros". Há um encontro anual com vários da turma.

segunda-feira, janeiro 05, 2009 5:54:00 PM  
Blogger Maria Valéria said...

Oi Júlio,

Nós temos uma comunidade para o 'Clube da Esquina' no Orkut, participe tb: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=46018233
Temos ligação com vários dos membros do Clube, e alguns deles participam da comunidade. Hoje em dia vários deles estão no Orkut! Bons tempos novos!
Além dos 'meninos' do Clube, temos agora a 2ª geração do Clube, que são os filhos dos músicos do clube e tb os seguidores.
Parabéns pelo post! Belas histórias.

Abraço,
Maria Valéria.
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http://minastrain.blogspot.com/
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http://faclubemusicaaudaz.blogspot.com/
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http://toninhohorta.blogspot.com/
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sábado, fevereiro 07, 2009 10:19:00 AM  

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