O BAIRRO DAS QUATRO LETRAS...
“Um autor só é autor no momento em que escreve. Depois, ele passa a ser um leitor a mais da sua prórpia obra.”
Autran Dourado
“Essas garotas transam com você numa noite e já acham que podem dançar contigo.”
Jonh Travolta interpretando Tony Manero, em Os Embalos de Sábado À Noite. Uma frase que resume aquele louco final da década de 70
“Pode os homi vir
Que não vão me abalar
Os cães farejam medo
E logo não vão me encontrar”
Que não vão me abalar
Os cães farejam medo
E logo não vão me encontrar”
Me Deixa - O Rappa
Porque eles são cria da Lapa
Porque eles são cria da Lapa
É de manhã
È de madrugada, é de manhã
Não sei mais de nada
É de manhã, vou ver meu amor
É de manhã
Vou ver minha amada, é de manhã
Flor da madrugada, é de manhã
Vou ver minha flor
Vou pela estrada
E cada estrela é uma flor
Mas a flor amada
É mais que a madrugada
E foi por ela que o galo cô-cô-rô-cô
È de madrugada, é de manhã
Não sei mais de nada
É de manhã, vou ver meu amor
É de manhã
Vou ver minha amada, é de manhã
Flor da madrugada, é de manhã
Vou ver minha flor
Vou pela estrada
E cada estrela é uma flor
Mas a flor amada
É mais que a madrugada
E foi por ela que o galo cô-cô-rô-cô
É de manhã – Caetano Veloso
Não sei por que, mas sempre que ouço esta música me lembro da Lapa. Aliás, eu sei sim. Há muitos anos, um amigo meu havia brigado com a namorada. Então, numa madrugada, ele e outros da faculdade saímos do Nova Capela e resolvemos subir até Santa Teresa para fazer uma serenata. Em estado normal, eu nunca pagaria um mico desses. Mas estávamos, para ser modesto...bêbados. Enquanto subíamos a rua Monte Alegre, pensávamos no que iríamos cantar. O Magnus, amigo nosso que tocava chorinho, começou a dedilhar essa É de Manhã no violão. O que tinha tudo a ver. A manhã já estava prestes nascer e o Paulinho – o namorado rejeitado – iria mesmo ver mesmo o seu amor.
Bem, fizemos a tal serenata. A Aninha, a namorada cortejada, dividia uma casa com mais três amigas e acordou de mau humor, e começou a brigar feio com o Paulo. Foi constrangedor. Deixamos os dois quebrando o pau. Voltamos para a Lapa no primeiro bonde, enquanto o dia amanhecia e eu me perguntava em quantas mulheres não gostariam de ser despertadas com este poema do Caetano. O Magnus disse que “Se ela está puta com o Paulo, tudo bem. Mas respeite a música, porra!” E estava certo.
Isso aconteceu há muitos anos. Paulo e Ana se casaram.
Com pessoas diferentes.
Eles não se mereciam.
Bem, fizemos a tal serenata. A Aninha, a namorada cortejada, dividia uma casa com mais três amigas e acordou de mau humor, e começou a brigar feio com o Paulo. Foi constrangedor. Deixamos os dois quebrando o pau. Voltamos para a Lapa no primeiro bonde, enquanto o dia amanhecia e eu me perguntava em quantas mulheres não gostariam de ser despertadas com este poema do Caetano. O Magnus disse que “Se ela está puta com o Paulo, tudo bem. Mas respeite a música, porra!” E estava certo.
Isso aconteceu há muitos anos. Paulo e Ana se casaram.
Com pessoas diferentes.
Eles não se mereciam.
Muvuca na Lapa. Embora a muvuca tenha mudado um pouco para outros points, como os arredores da Tiradentes, por exemplo, a Lapa continua... Lapa. Em nenhum outro lugar do mundo, punks, muderninhos, velinhos, patricinhas, travecos, sem-teto, malucos, gringos, hippies, caretas, mauricinhos, artistas, tarados, putas, bebuns, gente cult, vagabundos, boêmios, enfim, todas as tribos poderm conviver pacificamente. Mesmo não se aceitando. Se você nâo se achar na Lapa, se mate.
Onde eu eu estava? Ah, sim...
De qualquer forma, eu contei eaquela história lá em cima porque estive na Lapa ontem, depois de algum tempo afastado da noite.
Comecei a freqüentar a Lapa nos anos 80. Bem antes desse atual “renascimento”. Digo entre aspas porque, para mim, a Lapa nunca morreu. Na época áurea do Circo Voador, ao final do show, as pessoas fugiam para outras bandas. Ser visto na noite da Lapa pegava mal. Após o Circo, eu ia para o Nova Capela ou o Bar Brasil ou o Nova República ou para um boteco qualquer, onde se podia escolher uma mesa com calma. Escolhia-se vaga para estacionar. Fila era uma coisa tão rara, quanto alguém com pressa.
Não sou saudosista. Acho que a Lapa está melhor hoje. Embora sinta saudade daquele gosto de transgressão que era o ato de ir à Lapa. Ao responder a pergunta “Qual é a boa pra hoje à noite??” Ninguém diz “eu vou à Barra” ou eu vou “eu vou à Ipanema. Hoje, ainda se responde: “Eu vou â Lapa.” Por que ir ao bairro das quatro letras ainda é, por si só, um programa. Nem que seja apenas pra caminhar. Mas hoje virou moderno, fashion, cult, cool. Na minha época, era coisa de vagabundo, maluco, viado, boêmio decadente ou gente que gostava de amanhecer vomitando na sarjeta.
De qualquer forma, amo a Lapa e até fiz uma crônica sobre ela. A Lapa de ontem e de hoje.
Onde eu eu estava? Ah, sim...
De qualquer forma, eu contei eaquela história lá em cima porque estive na Lapa ontem, depois de algum tempo afastado da noite.
Comecei a freqüentar a Lapa nos anos 80. Bem antes desse atual “renascimento”. Digo entre aspas porque, para mim, a Lapa nunca morreu. Na época áurea do Circo Voador, ao final do show, as pessoas fugiam para outras bandas. Ser visto na noite da Lapa pegava mal. Após o Circo, eu ia para o Nova Capela ou o Bar Brasil ou o Nova República ou para um boteco qualquer, onde se podia escolher uma mesa com calma. Escolhia-se vaga para estacionar. Fila era uma coisa tão rara, quanto alguém com pressa.
Não sou saudosista. Acho que a Lapa está melhor hoje. Embora sinta saudade daquele gosto de transgressão que era o ato de ir à Lapa. Ao responder a pergunta “Qual é a boa pra hoje à noite??” Ninguém diz “eu vou à Barra” ou eu vou “eu vou à Ipanema. Hoje, ainda se responde: “Eu vou â Lapa.” Por que ir ao bairro das quatro letras ainda é, por si só, um programa. Nem que seja apenas pra caminhar. Mas hoje virou moderno, fashion, cult, cool. Na minha época, era coisa de vagabundo, maluco, viado, boêmio decadente ou gente que gostava de amanhecer vomitando na sarjeta.
De qualquer forma, amo a Lapa e até fiz uma crônica sobre ela. A Lapa de ontem e de hoje.
A Lapa
Está voltando a ser a Lapa
A Lapa
Confirmando a tradição
A Lapa
É o ponto maior do mapa
Do Distrito Federal
Salve a Lapa!
O bairro das quatro letras
Até um rei conheceu
Onde tanto malandro viveu
Onde tanto valente morreu
Enquanto a cidade dorme
A Lapa fica acordada, acalentando quem vive de madrugada
A Lapa
Composição: Herivelto Martins e Benedito Lacerda
3 Comments:
Grande amigo Júlio,
o melhor da Lapa não é se achar lá, mas se perder.
Abraços
PS: teu blog tá muito bom!
A LAPA também me fascina... não tanto pela atual "badalação", mas pelo caráter transgressor que eu acredito que — apesar de tudo — ela ainda conserva.
Não foi à toa que o meu Conto do Rio (Condenados) se passou lá.
Aliás, você já leu o LAPA DO DESTERRO E DO DESVARIO? É uma antologia organizada pela Isabel Lustosa em que vários autores nacionais consagrados "contribuem" com contos ou crônicas. O texto de Madame Satã é memorável! Um livro e tanto! Eu recomendo.
Abraço,
Wagner.
Seu post é longo para comentar todo. Fico com a frase do Autran Dourado lá no início - como é verdadeira. E você me fez lembrar os tempos em que era jovem e morava em BH, onde serenatas eram de lei. Que moça mais sem sensibilidade, rejeitar serenata é coisa que não se faz.
Postar um comentário
<< Home