domingo, março 17, 2013

Oba-oba nas Yabás



Samba da grife Madureira.
Yabá na linguagem nagô quer dizer rainha-mãe. E há vários anos, acontece em Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio, uma feira que leva esse nome. Na verdade as rainhas ali são mulheres do samba e também da mesa. Oswaldo Cruz fica ao lado de Madureira, região que abriga três grandes escolas de samba (Portela, Império e Tradição) e é berço de grandes sambistas. 
Por outro lado, a comunidade do samba desenvolveu uma culinária quase que própria, muito influenciada pela herança dos escravos. Essa culinária, que já foi cantada em clássicos de MPB, ficou anos confinada dentro das casas dos sambistas. Até que se resolveu levá-la para as ruas, em uma feira mensal, ocorrida na Praça Paulo de Portela, na altura do número 88 da Estrada do Portela.
Em 2012, a prefeitura concedeu alvará e o evento passou a ganhar espaço na mídia, atraindo cariocas até da longínqua zona sul. O objetivo é divulgar o que antes era restrito apenas às rodas de samba, ocorridas nos quintais das casas do sambistas da região.

Tipos característicos que só se encontra nos trens da Central do Brasil.
Você pode chegar lá na Feira de carro. Mas leve em consideração três coisas. Primeiro, que o local não tem estacionamento e você terá que deixar seu carro nas ruas adjacentes, que também não contam com guardadores. Nem flanelinhas eu vi.
O segundo ponto é que se você não for da região e não conhecê-la, pode ter alguma dificuldade para chegar, mesmo porque a Estrada do Portela vai ficar bloqueada.
O evento pede uma cervejinha e considere também a possibilidade de tomar umas doses a mais, principalmente porque faz muito calor naquela terra. E não é prudente encarar o volante depois, ainda mais com as blitzes da Lei Seca por aí.
Táxi só é viável se você morar perto. A Feira ocorre no domingo, dia de bandeira dois e nos subúrbios não se consegue táxis tão fácil.
Há várias linhas de ônibus na região, mas que são desviadas para a rua Carolina Machado. Verifique aqui a linha que melhor possa lhe servir, sempre de olho no mapinha do google, é claro.
Eu acho que o meio de transporte mais prático seja o trem. Foi o que eu utilizei. A estação de Oswaldo Cruz não fica muito distante. Saindo da estação, virar à direita, atravessar e dobrar na quarta rua, a Sérgio de Oliveira e seguir direto até a praça. Não tem erro. Combinar o trem com o metrô é a forma mais inteligente.

Estação de Oswaldo Cruz.
Leve em Consideração o calor que faz pra aquelas bandas. Então, roupas bem leves e confortáveis.
Grupo Jaqueira
O evento está marcado para começar ao meio dia. È bom chegar cedo para encontrar mesas e cadeiras disponíveis, de preferência em locais com sombra.
Os artistas não costumam subir no palco antes das duas. Os shows geralmente duram até o início da noite.


A comida, em geral, era ótima. Mas acho que não é um lugar para se almoçar e, sim, petiscar. Se puder forrar o estômago levemente antes, vai ser melhor. Os preços variam de acordo com o prato e não achei caro. Os pratos servem bem a um casal.

Barraca do peixinho frito.
Há barracas oferecendo vários tipos de comida. Mas em todas, as tias nem sempre dão conta dos pedidos.

E as filas são inevitáveis. É preciso ter paciência.

Enquanto você espera o show ou está na fila, aproveite para sentir a vibe local, que é bem positiva. O local me pareceu ser bastante seguro (há seguranças particulares e guardas municipais) e o objetivo ali parece ser apenas se divertir. Não vi e nem soube de nenhum tumulto ali.
Uma coisa que me chamou a atenção é como a população negra ou afro-descendente (parece ser maioria na região) se prepara para esses eventos. O cuidado que as mulheres têm com os cabelos é fantástico. Acessórios e adereços em abundância, mas nada de exagero.

Já muitos rapazes usam chapéus estilosos, cabelos muito bem cortados e roupas impecáveis.
Os leques, geralmente grandes e coloridos, também  chamam a atenção.
Luíza Dionízio.
Aí, começa o samba e a festa eliminam as deficiências de infra-estrutura que ainda há na Feira.
Marquinhos Oswaldo Cruz, um dos fundadores da Feira.
E gente, ver Dona Ivone Lara cantar de pertinho foi emocionante para mim.
É impressionante como o samba mexe com aquele povo.

E também não pude deixar de reparar a alegria daquela gente. 
Quem conhecer o Rio apenas pela zona sul. Vai achar que o carioca consegue levar tantas dificuldades apenas pro causa da beleza da cidade. Mas há algo mais que nos faz ser como somos. E esse algo mais eu senti lá em Oswaldo Cruz.
Para entender isso, é preciso ir até lá. 







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