sexta-feira, janeiro 29, 2010

O que que é isso, companheiro Almodovar?


Há somente quatro diretores que ainda me fazem sair de casa para assistir seus filmes no cinema: Woody Allen, Martin Scorcese, Quentin Tarantino e Pedro Almodovar. Todos têm me decepcionado, mas continuo encarando os Multiplex da vida para assisti-los. Tudo porque continuo a achar que vale a pena o sacrifício.
Porém, o último pegou pesado em seu recente trabalho, Abraços Partidos (2009). Pode parecer exagero, mas em alguns momenos me senti como se estivesse assistindo a uma daquelas novelas cucarachas do SBT. Pronto, falei.
A impressão que tenho é que todos esses diretores andam meio sem idéias. E Almodovar, em Abraços..., lança mão de artifícios novelescos, como a descoberta do roteirista que trabalha para o cineasta amigo de sua mãe, de que ele, na verdade, é o seu pai, por exemplo. Ou do amor proibido de uma mulher casada com um ricaço bem mais velho e que acaba morrendo ao fugir com o seu amado.
Quer dizer que o Almodovar se transformou num autor cucaracha? Não. A preicosidade do talento do diretor espanhol ainda pode ser visto tanto na bela cena da lágrima caindo sobre o tomate, enquanto Lena (Penélope Cruz) cozinha é a cara do diretor espanhol. Assim como também não existe nada mais Almodovar do que um marido traído contratar uma leitora labial para decifrar o que a mulher está falando para o amante, na cópia do filme feito pelo filho.
Tá certo que exageros sempre foram a mara da obra de Almodovar. O que me incomoda em Abraços Partidos - e isso não chega a comprometer a qualidade do filme como um todo -, é que tive a impressão de que esse diretor tão criativo perdeu a mão e precisou encher linguiça com artifícios baratos. Partindo de quem é, só me deixa surpreso. Porque é uma pena, pois Abraços... tinha tudo para ser o seu melhor filme. Nele, Almodovar mergulha na sua própria arte, analisando o processo criativo de um diretor de cinema. E mais, um diretor cego. Mais Almodovar impossível.
A capacidade de extrair o melhor dos atores continua a mesma, o talento para expor o ridículo da condição humana também. Os seus cenários continuam coloridos e as paisagens exploradas ainda são radiantes. O que mudou foi o foco, que deixou de ser feminino. A trama gira em torno de homens. Mas dois homens loucamente apaixonados por uma mulher.
Enfim, todos os igredientes que fizeram de Almodovar um dos maiores do cinema do último século e deste estão presentes e, incompreensivelmente, têm que conviver com clichês e artifícios dramatúrgicos de quinta, que nada têm a ver com a obra do espanhol que sempre me tirou de casa para assití-lo. Agora já penso no DVD como alternativa.

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