quinta-feira, agosto 28, 2008

Responsabilidade


Recentemente, conheci em um evento social um empresário que havia sido simpatizante de um grupo guerrilheiro durante a ditadura militar. Foi preso e muito torturado, entre 1970 e 1972.
Estávamos numa roda animada e o papo não era política e, sim, música. Em certo momento, o ex-guerrilheiro contou que durante a prisão os subversivos não podiam demonstrar nenhum sinal de fragilidade ou ela seria explorada durante a tortura.
Ele havia deixado mulher e um filho pequeno em casa e morria de saudades e preocupação, pois não sabia o que havia sido feito deles.
Numa noite, todos os outros presos dormiam e da sala do carcereiro vinha o som de um radinho de pilha. De repente, começou a tocar I´ll be there, que fazia enorme sucesso na época.
O velho guerrilheiro nos contou que, ao ouvir a vozinha do Michael Jackson, ele lembrou-se do seu filho e começou a chorar. Baixinho para que o militar de plantão não o ouvisse. E como o carcereiro costumava fazer rondas noturnas pelas celas, sua angústia cresceu. Tentou pensar em algo feliz para estancar o seu choro. Que tal o dia em que estivesse longe dali? Mas será que sairia vivo? Será que voltaria a ver os seu filho?
E a vozinha do Michal Jackson...
Mas em um determinado momento foi justamente aquele som que o fez esquecer a sua angústia, quando um pensamento idiota brilhou em sua mente: Como reagiria Michael Jackson(na época ainda integrante do The Jackson 5, um típico produto de consumo da sociedade mais capitalista do planeta) se soubesse que, ao invés de menininhas apaixonadas e casais de namorados, sua voz estava emocionando um homem que lutava contra uma ditadura militar e o justamente contra o imperialismo yankee?
"Que fracasso de guerrilheiro eu sou." Mas foi pensando nisso que ele conseguiu sufocar o choro e até abrir um sorriso.
Voltei para casa com essa triste história na cabeça e pensei na responsabilidade que se deve ter ao se fazer qualquer trabalho artístico, pois ele irá diferentes pessoas em diferentes situações.
Não sei se já comentei aqui, mas o meu romance policial A Arte de Odiar, por exemplo, resultou na separação de uma grande amiga minha. Não vou me aprofundar no caso, mas o drama da vilã Virgínia Brandão fez muitas mulheres que leram o livro a também questionarem os seus relacionamentos.
É lógico que o artista não pode e não deve se preocupar com com a repercurssão que sua obra terá, a não ser que ela venha a causar algum mal a alguém. Mas ele tem que saber da responsabilidade de encarar o retorno, bom ou mal, que seu trabalho tiver.
A história do velho guerrilheiro aconteceu no início dos anos 70. Imagine agora, no século XXI, quando jogamos nossas idéias na web, através dos blogs, e elas se propagam com rapidez por todo o mundo!
Pois eu conheci o ex-guerrilheiro e sua história no mesmo dia em que recebi um comentário sobre aquele que foi o post mais polêmico que coloquei aqui. Foi em 2006, quando preguei medidas radicais para o controle da natalidade, inclusive com um slogan que dizia: FILHO É PARA QUEM PODE! Quem freqüenta esse blog a mais tempo se lembra da polêmica que foi. Pois bem, um sujeito que se identificou apenas como Anônimo, me chamou de "FACISTA FDP".
Esse comentário irado e covarde não mudou a minha opinião. Continuo achando que o Brasil precisa de uma política de natalidade pra ontem. Por outro lado, não fico chateado com tal agressão. Quem sabe partiu de alguém que acabou de perder um filho ou luta sem sucesso para ter um? Nesse caso, eu seria o Michael Jackson e o Anônimo, pode ser o velho guerrilheiro.
O Zeca Baleiro tem uma música que diz mais ou menos assim: "Quem tem medo do tapa não põe a cara na rede." Nós blogueiros temos a total liberdade de escrevermos o que quisermos - o grande barato dos blogs. Mas temos que aceitar o tapa. Já levei muitos aqui.
P.S. Parabéns para o Michael, o novo cinqüentão!

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sábado, agosto 23, 2008

Músicas que lhe podem ser úteis - Parte VII




Esta música foi escrita nos anos 60, época em que Candeia ainda era um policial. E de repente me dei conta de que esse grande sambista já era sabático. Por isso, se você também está dando aquela retirada estratégica para dar uma virada em sua vida, decore bem a letra desta música - que você deve estar ouvindo na voz da Marisa Monte, faixa do seu primeiro álbum, de 1989 - para o caso de não ter saco para repetir o que é ser sabático, toda vez que que lhe perguntarem o que tem feito na vida.


Preciso me encontrar


Deixe-me ir, preciso andar

vou por aí a procurar

rir pra não chorar

quero assistir ao sol nascer

ver as águas dos rios correr

ouvir os pássaros cantar

eu quero nascer, quero viver

deixe-me ir preciso andar

vou por aí a procurar

rir pra não chorar

se alguém por mim perguntar

diga que eu só vou voltar

quando eu me encontrar

quero assistir ao sol nascer

ver as águas do rio correr

ouvir os pássaros cantar

eu quero nascer, quero viver

deixe-me ir preciso andar

vou por aí a procurar

rir pra não chorar

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terça-feira, agosto 19, 2008

Bala Perdida, o Sabático

A primeira vez que ouvi falar em ano sabático, confesso que pensei comigo mesmo: "isso é coisa de gente doida e endinheirada." Imagine! Largar o emprego, sair de casa e viajar por aí, tentando dar uma virada na vida!

Eu não sei quantos anos se passaram desde então, mas acontece que me encontro no meio de um ano sabático.

Não larguei o emprego porque dele ainda dependo. Pelo menos do emprego oficial. Mas não aceito freelas, parei de escrever e tenho reduzido as minhas atividades ao máximo. Pelo menos as ativades intelectuais. Esse blog ainda estárá no ar, mas não está entre as minhas prioridades no momento. O meu tempo livre sendo tomado apenas para rever a minha vida e planejar um recomeço.

Passei ileso pela crise dos quarenta. Aliás nem tive crise alguma aos quarenta. Mas agora, sinto uma urgência de zerar a minha existência. Esse desejo já vinha crescendo há uns cinco anos. E agora sinto que não dá mais para esperar.

Por um lado, sinto muito orgulho de mim mesmo, pois sempre ouvi dizer que merece aplausos quem ainda tem pique para mudar a sua vida aos cinqüenta. Por outro lado, todo momento de transformação é angustiante. O que vai acontecer? O que devo fazer? Qual o caminho tomar?

Tenho feito pequenas viagens, pedalado muito, voltei a meditar, visitado lugares e pessoas do meu passado. Tudo em busca de um insight que me aponte o caminho.

Enfim, esse resto de 2008 e todo o ano de 2009 deverá ser um looooooooongo período de preparação. Para quê? Aonde isso tudo irá me levar? Tudo isso me levará a uma nova vida. Afinal, farei cinqüentinha no ano que vem, e é o segundo. Tenho recebido e-mais da minha intuição que dizem que será um período bem mais feliz. A maioria das pessoas que conheço que se dedicaram a tal mudança não se arrependeram. Afinal, ninguém quer começar de novo aos cinqüenta impunemente. Quem sabe eu vire um santo?!

Está rindo? Respeite o meus meio século de vida!

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sábado, agosto 16, 2008

A Morte de Shaft

Eu tinha 12 anos quando a série policial Shaft estreou na Rede Globo, no final de 1971. Meus pais me deixavam ficar acordado até mais tarde para assistir às aventuras do policial negro, que por vir de um getho, tinha mais experiência e malandragem do que a maioria dos policiais novaiorquino. Além do mais, Shaft humilhava os tiras branquelos da cidade, movendo-se com elegância com roupas de bom gosto e por lugares da moda, para demonstrar a sua superioridade negra. Enfim, por tudo isso, Shaft era um seriado policial totalmente diferente de todos os outros. Ma ainda havia um detalhe: a trilha sonora. Blaxploitation da melhor qualidade. E isso se devia a um talentosíssimo músico, cantor e arranjador que morreu no último domingo, sem despertar muito interesse na mídia.
Isaac Hayes morreu e com ele se foi também Shaft. É impossível não relacionar um ao outro, já que o primeiro não deixou uma obra do tamanho do seu talento e será lembrado como o criador do tema do segundo.
Luz pra você, negão!

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sábado, agosto 09, 2008

Coisas inteligentes que a gente ouve por aí e não pode deixar passar porque está cada vez mais difícil se ouvir coisas inteligentes 1

"O problema hoje em dia é que a gente tem que ser esperto vinte e quatro horas por dia. E eu daria tudo para poder ser de novo uma babaquinha otária apenas por uma meia hora, só para relaxar."
Minha amiga Márcia Salgado, sobre uma das ferramentas de sobrevivência no mundo moderno

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terça-feira, agosto 05, 2008

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK



Art. 5 - "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,..."



Não sei se vocês já se tocaram, mas a nossa constituição irá completar duas décadas no próximo 05 de outubro. Penso eu que já está precisando de reformas urgentes, para afastar o mofo, as infiltrações e a pintura gasta. Caso o contrário, corre o risco de se transformar no livro mais engraçado de todos os tempos.

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