quinta-feira, setembro 29, 2005

DOIS MESES DE BALA

“Estudou piano e bordado. Foi debutante e normalista.
Sempre frágil, meiga e triste.
Casou virgem com um rapaz de família e não foram felizes para sempre.
Amaram-se, mas continuou donzela.
Frágil, meiga e triste.
Só quando o estuprador se pôs em ação naquele beco escuro,
soltou a sua primeira gargalhada.”
Apenas um dos meus microcontos que está no meu livro Crimes e Perversões
DICA DE BLOG
Não é nenhum exagero dizer que o New York On Time, do jornalista Jorge Pontual é um dos melhores blogs atualmente na web. Muita informação interessante, lindas fotos, ótimas músicas, matérias inteligentes e muito bom gosto. Consulte o link ao lado.
E há também pérolas como esta poesia de Baudelaire...

Recolhimento
Sossega, minha Dor, não desesperes não.
Reclamavas da luz; já se vai;
finda o dia.
A cidade mergulha na escuridão que alguns atormenta
e outros alivia.
Enquanto dos mortais a reles multidão,
escrava do Prazer, carrasco sem perdão,
vai colhendo remorsos na mísera orgia,
aceita, minha Dor,
esta mão que te guia
pra longe deles.
Vê como os Anos finados nos olham lá do céu com seus velhos brocados;
no fundo d'água,
a Saudade sorridente;
o sol mortiço sob a ponte se deitar;
e, como mortalha que avança do Oriente,
ouve, cara, ouve a doce Noite chegar.

Charles Baudelaire

O milagre do amor é fechar o mundo em torno de um ser que nos encanta, o horror do amor é fechar o mundo em torno de um ser que nos acorrenta.”
O escritor e filósofo francês Pascal Bruckner. Também retirado do NY on Time, do Pontual, que em entrevistou o próprio Bruckner para a Globo News


“...Como os brasileiros, só os brasileiros. Para o bem e para o mal. Do mesmo modo que somos receptivos, quando os brasileiros têm que ser ruim, não há povo pior...”

Fábio Silveira Cardoso falando sobre sua viagem a Londres, em entrevista a Ricardo Senise, via podcast
Porque alguém tem que dizer umas verdades de vez em quando
"Se dirigir, não beba; se for beber, me chame"
Não li em nenhum traseira de caminhão e sim na página do roteirista Daniel Lion, no Orkut

terça-feira, setembro 27, 2005

O TAXISTA E A PUTINHA


“- Eu posso tirar você deste lugar, eu posso mudar sua vida, menina.
- E eu posso chupar o seu pau por apenas dez dólares.”

Diálogo entre o taxista e a vagaba di menor, em Taxi Driver.





HÁ QUASE TRINTA ANOS, UM TAXISTA E UMA PUTA DI MENOR ERAM NOTÍCIA

Mas não nas páginas policiais e sim, nos segundos cadernos do mundo inteiro. Taxi Driver, a película que levou Martin Scorcese até o andar dos maiores diretores do cinema americano, acaba de ser lançada em DVD e é uma ótima dica – não vou dizer obrigatória para não ser chato – tanto para os amantes do bom cinema, quanto para quem gosta de curiosidades.
Para se entender melhor Taxi Driver, é preciso entender os EUA naquele meio da década de 70. Bem, Nixon havia renunciado em agosto de 1974, fugindo de um possível processo de impeachment. O vice Gerald Ford assumiu e encarou uma das piores crises econômicas da história americana, com um cenário de greves, inflação crescente e o maior nível de desemprego desde a Grande Depressão. Ford, sem carisma e indeciso, passava a impressão de estar perdido, enquanto a nação esperava por medidas drásticas. A vergonhosa retirada das tropas e funcionários da embaixada americana no Vietnã, após a derrota na guerra, que completava dez anos, foi a gota d´água para que a auto-estima do país descesse tanto, que as minhocas olhavam para baixo e debochavam dela.
Nova Iorque foi a cidade que mais sofreu com a crise. Acostumada a sempre receber generosas ajudas federais, agora, a metrópole tinha que se virar sozinha, como um adolescente que foge do lar confortável e se vê na rua da amargura, esquina com a avenida do desespero. No verão de 1975, quando Taxi Driver começou a ser rodado, a cidade estava à beira da falência. Sem o socorro federal, os novaiorquinos passaram a ter que conviver com ruas cheias de lixo, a iluminação deficiente, sem-tetos e ratos por todos os lados, prostituição, crimes, tráfico de drogas e delinqüência. Nos guetos e bairros pobres, os moradores incendiavam seus imóveis para receber o seguro, já que se conseguissem vendê-los, receberiam bem menos.
E é nesse cenário de degradação e decadência, que Travis Bickle (Robert De Niro na melhor forma), um veterano do Vietnã de 26 anos, circula com o seu táxi. Travis é um bom sujeito, honesto, pacato e cheio de boas intenções. Parece um E.T. num mundo cheio de corrupção, violência, miséria e imoralidade. Seria apenas mais um solitário da metrópole, se, após ser desprezado pela bela Betsy (Cybil Shepard) e ter fracassado em salvar a prostituta adolescente Íris (Jodie Forster, na época com apenas 12 anos), não tivesse surtado, achando que poderia acabar sozinho com toda a podridão que via a sua volta.
Para contar esta história de solidão e violência, Scorcese optou por criar um clima noir, em que a música de Bernar Herman cai como uma luva na Nova Iorque suja, violenta e sinistra daquela época. O próprio Scorcese faz uma ponta no filme, como o marido traído que quer matar a esposa.
Taxi Driver é o elo numa corrente do cinema americano que havia começado com o revolucionário Perdidos na Noite (Midnight Cowboy), de John Schlesinger, em 1969, quando Hollywood ousou a olhar para os excluídos, lhes dando papeis de destaque. Isso já havia sido feito antes, mas não com visão tão humanista e carinhosa. Antes, filmes como O Homem do Braço de Ouro, em que Frank Sinatra interpreta um músico viciado em heroína, por exemplo, mostrava apenas uma visão do tipo “Vejam o que acontece no submundo, o mundo ao qual, graças a Deus, não pertencemos”. Mas nos incendiários anos 60, uma nova geração de diretores – como Scorcese – deixavam as universidades com uma visão social e política incendiária. E estavam decididos a fazer filmes que pareciam dizer: “Enquanto você está aí confortável nesta poltrona de cinema, seu babaca. Veja como nossos irmãozinhos excluídos estão vivendo.” Durante a primeira parte da década de 70, esta preocupação com os que viviam a margem da sociedade foi uma constante. Filmes como Operação França, Superfly, Um Dia de Cão, Nashville e O Estranho no Ninho, são um exemplo. Mas nenhum foi tão contundente quanto este Motorista de Táxi. Enquanto dirige o seu amarelinho, o olhar moralista e atônito de Travis parece procurar documentar nervosamente a decadência de uma Nova Iorque, que felizmente, não existe mais. É com se o espectador fosse o passageiro e o motorista dissesse: “Olha lá aquele viciado! Veja quantas prostitutas! Saca só os moleques tacando pedras no meu carro. Você viu aqueles coroas bêbados brigando no meio da rua, à luz do dia?” Sim, a cidade é mais uma personagem do filme.
Asssiti a Táxi Driver no velho cinema São Luiz, no Largo do Machado, assim que estreou, em 1976. Fui com a minha irmã e o meu futuro cunhado. Depois, fomos discutir sobre o filme no velho Lamas, que dois anos antes havia comemorado um centenário e que seria fechado pouco depois, devido às obras do metrô. Muita gente fez o mesmo. Assim como acontecia nos EUA, no Brasil, grande parte do público foi assiti-lo por causa do alvoroço que a imprensa fez em torno das cenas de violência – que são ridículas perto das mostradas hoje. Mas Taxi Driver é muito mais do que apenas um filme violento. Chega a ser quase um documentário de uma época, tão realistas são suas cenas, o que não seria possível sem o excelente desempenho do diretor, dos atores e de toda equipe.
Aliás, toda a ficha técnica e mais curiosidades, prêmios e outras informações, podem ser encontradas no site http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/taxi-driver/taxi-driver.htm. Uma das curiosidades é que Robert De Niro trabalhou doze horas, durante um mês para compor o seu personagem. Vale a pena dar uma olhada.


Iris e Travis, quem diria? Terminaram em DVD

“É triste ter o desejo como inimigo.”
Virgínia Brandão, a personagem atormentada do meu romance policial A Arte de Odiar, que aliás, já está no prelo. Aguardem!


UM BANQUINHO E UM CONTO NA MÃO. DE NOVO

Antes tarde do que nunca. Aqui estão os registros de mais um Sarau de Santa, no último dia 10, na livraria Largo das Letras. Como já falei, um antro de gente inteligente; um covil de pessoas interessantes.



Diana de Hollanda dando a cara a tapa,...




...assim como Flávio Izhaki,...




...Henrique Rodrigues,...




...Guilherme Tolomei,...



...David Cohen, e...



...eu.



E tudo terminou naturalmente na mesa do Simplesmente.














quinta-feira, setembro 22, 2005

UM POST SANGUE BOM



E aí vai mais um conto da antiga. Este foi escrito em 1993, na época em que Orkut podia ser nome de um grupo da máfia russa; Blog, poderia ser nome de guloseima; MP3 podia ser o nome de algum trio que cantava MPB,; MSN, poderia ser Movimento dos Sem Nádegas; e se você pedisse a alguém, “Pode me adicionar?”, certamente teria problemas.



segunda-feira, setembro 19, 2005

BALAS E MAIS BALAS




E tome bala!




“Tenha sempre respeito pelos mais velhos”

Isso eu aprendi com a minha mãe, que não está mais aqui para ver que suas palavras nem sempre estavam certas.


“Quase sempre estão em nossas mãos os recursos que pedimos ao céu.”
Um cara chamado Shakespeare


“O cinismo consiste em ver as coisas como elas são, não como elas deveriam ser.”
Oscar Wilde


“Não se pode julgar um ser humano pelos círculos que ele freqüenta. Não nos esqueçamos que Judas andava em excelente companhia”
Ernest Hemingway


“Burguês é uma criatura muito delicada, que jamais faria mal a um leão
Leon Paul Fargue




Eu vou.







Sérgio Sant´anna e a galera do Bagatelas no Encontro do último sábado

NUMA ACONCHEGANTE TARDE DE INVERNO...

Duas e poucas da tarde, sábado, 17 de setembro de 2005. O desmoralizado inverno carioca ainda tentava provar que é macho e trouxe uma chuva fina e um ventinho frio. O convite a ficar em casa era irresistível, mas quem conseguiu vencê-lo e esteve na Livraria Dantes, no Cinema Odeon, na velha Cinelândia, assistiu um fato especial: um consagrado da literatura nacional, sendo entrevistado por gente jovem que faz a nova literatura. E o que poderia ser um embate, foi quase uma confraternização. Sem formalidades, o pessoal do Bagatelas, deu um show. Um show de autenticidade e orgaização. Em grande parte pelo impagável Vidal, que não somente lia, mas interpretava os textos, quebrando ainda mais o gelo que poderia haver, mas não havia. Sem puxa-saquismo ou glorificação de mitos, eles foram apenas o que são, um grupo de amigos, loucos por literatura que estavam recebendo um grande escritor para apenas conversar. E assim a tarde foi indo, agradável. Não parecia que havíamos saído de casa para um Encontro Literário com o Sérgio Sant´anna e, sim, para tomar uma cerveja com o Serjão, que entrou no clima e foi ficando e ali ficaria até mais, se deixássemos. Pode parecer exagero, mas não sei se era o aconchego de um prédio do início do século, eu me senti numa espécie de lounge literário. Na platéia, rostos conhecidos como o jornalista/escritor Marcelo Moutinho e o Augusto Salles, da Paralelos. E mais estudantes, jornalistas, blogueiros, fãs e amantes da literatura. E certamente, ninguém se arrependeu de ter saído de casa naquela tarde de sábado.

Aliás, a Dantes tem tudo para se tornar o point literário da primavera/verão. E o Bagatelas está prometendo...e mostrando a que veio. Parabéns a galera do Bagatelas, ao Serjão, a Dantes e a todos que conseguem pôr boas idéias em prática neste país, onde tudo joga contra.


Pegando a bike, depois do Encontro. Parabéns também ao Centro da Cidade, que, como já falei aqui, está voltando a ser mesmo um polo de atrções culturais interessantes.






domingo, setembro 18, 2005

UM CARA CHAMADO JIMI

“Será que vivi o bastante? Será que ainda terei muito a viver?
Não importa. Só sei que não estou vivendo hoje.”

Jimi, em I Don´t Live Today


FOI HÁ 35 ANOS ATRÁS...

Cretina! Aquela quinta-feira realmente me enganou. Chegou assim como quem não quer nada...eu tinha dez anos e estava convalescendo de uma hepatite, contraída na Praia Vermelha. Após o almoço, voltei para a cama, aonde, por ordens médicas, deveria ficar por tempo indeterminado, e só me levantar em casos especiais. E aos dez anos, se tem muitos motivos especiais. Em todo caso, segui à risca as determinações do Dr. Eudardo. O médico da nossa família. Os planos de saúde ainda não existiam.
Mas o telefone tocou e era a minha irmã (tenho uma irmã, que, na época, já tinha 21 anos). Estava no trabalho e queria falar comigo. Após muita insistência, minha mãe me chamou. Fui atender, intrigado. Que motivo especial seria aquele?
“Porra, Julio. Sabe quem morreu?”, minha irmã. Quem seria?, pensei. O Martinho, o namorado dela? Vovó Marina, que já estava velhinha? Tio Urbano que já não andava muito bom? Meu pai?, “O Jimi Hendrix, cara!!!!”
Era a quinta-feira, 18 de setembro de 1970 e Jimi Marshal Hendrix, havia mesmo morrido horas antes, devido a uma overdose de tranqüilizantes, em Londres. A notícia chegou no Brasil pouco antes das duas daquela tarde. O nosso primo João Régis havia ligado para a minha irmã e lhe deu a notícia chorando.
Há dois anos eu havia tido o meu primeiro contato com Jimi, quando o João havia importado – os discos estrangeiros costumavam sair com muito atraso no Brasil, na época – o LP Axis: Bold as Love. E foi um acontecimento. Ainda me lembro de estar sozinho no quarto da minha irmã, ouvindo If 6 was 9. Tem aquele momento em que a guitarra de Jimi pára de imitar os pássaros e ele começa a falar com a voz rouca. A maioria dos discos de rock ainda eram mono e a sua voz começou a se dividir entre as caixas de som, uma em cada lado do quarto, como se Jimi dialogasse consigo mesmo. O ambiente era iluminado somente por um abajur, as paredes eram cobertas por recortes de revistas e posters, dando um efeito psicodélico, típico da época. E a voz rouca de Jimi atravessava o quarto de lado a lado. Era a primeira vez que eu ouvia alguém falar durante a música. Era a primeira vez que eu ouvia um som como aquele. Se aquilo era possível, então tudo é possível. Hoje é ridículo, mas naquele momento, senti a minha cabeça abrir para diversas coisas. E quando eu recebi a notícia de sua morte, eu me lembrei disso.
A morte em si já foi algo traumático. Mas o pior foi a época em que ela aconteceu. Qual era a atmosfera naquele 1970? Bem, dias antes de Jimi morrer, Woodstock havia estreado no Rio. Ainda me lembro da minha irmã indo assistir o filme com os primos João e Ricardo, no Cine Carioca, na Praça Saenz Peña. Todos usando suas roupas hippies. Lá na América, Woodstock havia estreado em maio com protestos nas portas de alguns cinemas, devido aos preços exorbitantes. “O Rock virou comercio!”, gritavam os fãs. Hoje, ninguém mais duvida disso. Naquele mesmo mês de maio, vinha a notícia do fim dos Beatles. Os Stones haviam deixado a Inglaterra para um exílio de quase dois anos no sul da França, fugindo do massacre da imprensa inglesa, após a tragédia do Festival de Altamont, em dezembro de 69, nos EUA, quando quatro jovens haviam morrido. Bob Dylan estava ainda se recuperando do misterioso acidente de moto que teria sofrido, Jim Morinson, do The Doors estava preso e os Crosby, Stills, Nash and Young, estavam prestes a se desintegrar. Na mesma época, Nixon chamava o Camboja para a guerra do Vietnã, embora desde que havia assumido a presidência, em janeiro de 69, viesse prometendo acabar com o conflito. As universidades americanas pegaram fogo e quatro estudantes foram mortos pela Guarda Nacional, em Kent State, Ohio. Naquele verão, os EUA chegaram próximo a uma guerra civil, com violentos conflitos de rua e ataques terroristas. A atriz Jane Fonda foi presa, sob acusação de dar ajuda financeira aos Panteras Negras. O Festival da Ilha de Wight, na costa da Inglaterra, foi marcado por tumultos, com derrubada de cercas, confrontos com a polícia, prisões e artistas sendo vaiados. Quando o verão terminou, a maioria daqueles jovens que haviam investido muito no sonho dos anos 60, estava com o astral abaixo das minhocas. Suicídos, casos de overdose, violência, desilusão e desânimo, passaram a ser rotina. Foi quando a melancolia das canções de gente como Elton John, James Taylor, Joni Mitchel, The Carpenters e, mais tarde, Carol King, Carly Simon e Cat Stevens, começou a dominar as paradas.
Aqui no Brasil...bem por aqui, todos sabem o que acontecia.
Este era o clima que estava no ar, quando Jimi partiu.
A imprensa brasileira, não deu muito destaque à morte de Jimi. Afinal, durante uma época de ditadura militar, com forte censura, não era prudente dar destaque à morte de um guitarrista drogado. Houve algumas homenagens nas rádios. Jimi não tocava em AM, mas me lembro que a Mundial, a rádio da moda, no Rio, abriu espaço no seu Show dos Bairros para Hendrix. Me lembro ainda da emoção do Big Boy – também dj da Mundial - ao falar do maravilhoso negão que era um dos símbolos de uma era em que se acreditava ser possível a construção de uma sociedade alternativa.
Pode ser que muitos adolescentes e jovens de hoje chorassem a morte de Avril Lavigne, Robin Williams, Shakyra, Eneman, Britney Spears ou Mariah Karey. Mas seria apenas por gostarem de suas músicas ou por, de alguma forma, se identificarem com eles. Mas depois, certamente, esses adolescentes iriam se comunicar com seus amiguinhos no MSN ou pelo Orkut, marcariam um encontro no Shopping ou na academia, e logo esqueceriam o luto. E eles estariam errados? Não. Mas grande parte da juventude em 1970, estava comprometida, cada um ao seu modo, com o projeto de transformar um mundo que não estava legal. Os seus pais haviam falhado, não se podia mais acreditar no governo, no que lhes ensinavam na escola e nas instituições. Mas se confiava em Hendrix. Assim como nos Beatles, em Jim Morinson, nos Stones e nos Crosby, Stills, Nash and Young, Mas todos eles nos abandonaram naquele 1970.
E Jimi Marshal Hendrix morreu naquela quinta-feira safada.
Só nos restava nos conformar com a idéia de que pessoas como Hendrix são como o cometa Harley, que cruza o céu de séculos em séculos e deve-se agradecer a Deus por se estar na terra, quando isso acontece.
Dezesseis dias depois da morte de Jimi, era Janis quem partia. Mas isso é papo pra mais tarde.



Axis: Bold as Love. O meu primeiro contato com a música de Jimi.

Eram os anos 60, época em que as capas dos discos eram levadas a sério.

Have you ever been, have you ever been in the eletric ladyland?

Assim começava a poesia sonora de Eletric Ladyland, faixa título do album duplo lançado por Jimi em setembro de 1968, e que é considerado por muitos como o seu melhor trabalho. Na capa inglesa, putas londrinas contratadas por alguns xilings, para pousarem nuas.

terça-feira, setembro 13, 2005

VOU DE TÁXI...


Mais um conto da era abissal, quando eu usava um 486 e ainda tinha a ilusão de ser um escritor...

SUPOSITÓRIOS

sexta-feira, setembro 09, 2005

UM POST DE VIDA FÁCIL

Foto tirada da página da ONG espanhola Fundación Utopía Verde
Tá certo que este blog nunca foi muito familiar, mas não pensem que isso aqui virou a Casa da Mãe Joana. A verdade é que depois de despachar meus antigos monitor, impressora, mouse, gabinete e teclado para a Polinter (por formação de quadrilha, lembram-se?), fiz um upgrade, coloquei tudo novo e, no meio da arrumação, acabei descobrindo um velho disquete. Uma relíquia dos tempos em que eu tinha um 486. E neste disquete estavam vários contos da época em que eu havia começado a escrever contos. E foi com muita emoção que percebi que alguns deles são bons e mereciam ser mostrados aqui.


Mas onde entram as putas?

É que eu fiquei tão excitado com a redescoberta destes contos, que resolvi homenageá-las. E serão elas que vão disparar balas neste post. Ou melhor, eis algumas balas sobre as profissionais mais antigas do planeta:



“Mesmo a mulher mais honesta não pode viver sem homem!!!!”
Geni, a vagaba que literalmente deu errado, da peça Toda Nudez Será Castigada, do Nelson, gritava isso, para ódio das feministas de plantão.

“Você pensa que os homens se abrem com quem? Com Deus? Eles se abrem mesmo é com as putas. Certas coisas não se fala nem pra Deus. E pra alguns, Deus nunca tem tempo. Gente perdedora que nem eu e você. Nós, que já subimos no ringue, usando luvas de veludo, pra enfrentar adversários com luvas de chumbo.”

Odete Escarlate, na minha peça Esta Noite É Verão no Inferno


“Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme etraficante se vicia.”
Tim Maia
“Me chame de puta, mas não me chame de mulher direita. Eu vivo de tirar dinheiro dos maridos das mulheres direitas.”
A puta Mayrah, no meu A Arte de Odiar.


“Toda mulher se vende pelo menos uma vez ao dia.”
Uma tal de Jurema, enquanto tomávamos uma média, numa pé sujo na avenida São João, na época em que eu morava em Sampa.

A ECOLOGISTA: - Sabe quantos animais foram mortos para que fosse feito este casaco de pele que você está usando?
A PUTA DE LUXO: - E você sabe com quantos animais eu tive que trepar para conseguir este casaco?

Diálogo de uma comédia americana, da qual não me recordo o nome, no início dos anos 90.








Em setembro de 1967, estreiava no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, Navalha na Carne, do Plínio Marcos. A primeira foto é da montagem carioca, que estreiaria um mês depois, com Tônia Carrero, Nelson Xavier e Emiliano Queiroz, com direção de Fauzi Arap. Em 1970, entrava em cartaz, a versão cinematográfica desta obra prima, com o mesmo Emiliano Queiroz, o Jece Valadão, Glauce Rocha e Carlos Kroebe, sob direção de Braz Chediak. E é desse texto a última bala:

“Será que isso é vida? Será que viver é isso, a gente se agredindo, infernizando uns aos outros? As vezes eu me pergunto se nós somos gente. Será que somos gente?”

Norma Sueli, a puta cansada de guerra do Navalha...

E qual o motivo de toda esta putaria?

Porque o primeiro conto que encontrei no tal disquete é sobre essas moiçoilas que dizem sim...


O TRADUTOR DA VIDA


Rio, novembro de 1969






SETEMBRO IRADO

A galera do circuito literário alternativo carioca não pode reclamar de falta de programas este mês. Amanhã, tem Sarau de Santa, na Livraria Largo das Letras. Eu estarei lá metendo bala, ou balinhas, já que a proposta é contos com até 300 toques. No outro sábado, será a vez do Encontro Bagatelas, na Dantes. Isso tudo já foi anunciado aqui, mas não custa lembrar. E o mês deve terminar em grande estilo com a Primavera dos Livros. Mas isto é papo pra mais tarde.



terça-feira, setembro 06, 2005

ESTÃO VOLTANDO AS FLORES...

A primavera de Botticcelli

MAIS UMA PRIMAVERA CHEGANDO...

Uma vez, um amigo que morava na Inglaterra, veio passar o verão (deles) aqui. E eu lhe perguntei se ele não tinha saudades do nosso clima ameno, onde não ficamos tristes com o fim do verão, pois é praticamente verão o ano inteiro. E ele mandou essa: Pois é, mas vocês também não conhecem a verdadeira celebração da primavera, o que é comemorar o fim de um longo, frio e cinezento inverno.
E ele estava certo. Mais uma primavera se aproxima e nada muda. Vamos continuar na praia, aderindo a modismos fúteis, tomando o mesmo chopinho e fingindo que tudo vai bem.





ENCONTROS E BAGATELAS
No sábado, dia 17, tarde literária na Dantes, no Cine Odeon, na velha Cinelândia, 14h. Vou estar lá. Mais detalhes, visite o site da Revista Bagatelas (link ao lado), no qual eu fui um dos colaboradores deste mês.
“A adversidade põe prova os espíritos.”
Um cara chamado Shakespeare, em sua Coriolano


Os alcoólatras são todos adultos carentes de mãe”
Françoise Dolto, psicanalista francesa.
Dou uma grana para quem gritar isto na porta do Jobi esta noite.
A ARTE DE MANDAR BALA...
E NÃO SE ESQUEÇAM...

domingo, setembro 04, 2005

O OUTRO LADO DA CIDADE

“O Amor e o Ódio são irmãos siameses.”
Otávio, o escritor assassinado no meu A Arte de Odiar.”

“Amar a si mesmo é o início de um casamento para toda a vida.”
De Oscar Wilde e virou o meu mantra.

“- Parece que Deus é mais eficiente com alguns.
- Deus não é tão perfeito. A gente tem sempre que dar uma ajudinha.
- Eu não dei ajudinha nenhuma.
- Pense bem. A gente sempre fornece as ferramentas para que Deus construa o nosso destino.

Trecho da peça A Alma Quando Sonha É Teatro, de Márcio Vianna.”

“O que mantém um homem vivo? Ele vive dos outros, ele gosta de bater neles, ebganá-los, comê-los inteiro se ele puder.”
Trecho da Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht e Kurt Weill


“Envelheçam, jovens! Evelheçam com urgência!!!”
Nelson Rodrigues






DEPOIS DA LAPA...A CINELÂNDIA...

Ontem, fui ao encontro “Blog, ficção e realidade. Um show de realidade.”, dentro da livraria Dantes, que meses atrás deixou o Leblon para se instalar ali, no coração da Cinelândia velha de guerra. O espaço é charmoso e bem aproveitado, como sala de encontro e debates. Neste de ontem, João Ximenes Braga, Antônia Pelegrino e Cecília Giannetti discutiram o crescimento dos blogs, o relacionamento com os fãs, o perigo de se expor a intimidade na web, etc, etc, etc. Foi um encontro interessante. Mas o que mais me chamou a atenção era a multidão de classe média que perambulava pelo cinema e também pelo Mercado Odeon, que rolava em frente, com barraquinhas vendendo roupas, livros, comida e tocando muita música.
Durante muitas décadas, a Cinelândia foi um local onde a classe média ia se divertir. Era chique ira ao Teatro Serrador, por exemplo, e terminar a noite no Amarelinho. Ou ir a um dos muitos cinemas da área e tomar um chá ou um sorvete na mesinha de um bar, café ou lanchonete. Por volta dos anos 20, a cidade se espalhava em direção ao Leblon, da mesma forma como hoje ela avança para o Recreio. Com isso, a classe média foi procurando pontos mais próximos da sua casa, na Zona Sul. Mesmo assim, a velha Cinelândia ainda ficou sendo point de intelectuais, artistas, boêmios e políticos.
As obras do metrô, a partir do meio da década de 70, trouxe a decadência. A Praça Floriano se transformou em um enorme buraco e poucos freqüentadores suportaram o barulho das britadeiras, a poeira e o ar de abandono que se abateu no local. As obras do metrô terminaram em 1978, mas a classe média não voltou. Nem os intelectuais, nem os boêmios, nem os artistas e nem os estudantes. A Cinelândia se transformou num local de prostituição, população de rua e sujeira. E assim permaneceu durante anos a fio. O fechamento dos cinemas Boavista e Pathé, aumentaram o ar patético desta área, que é um verdadeiro patrimônio cultural. As autoridades pouco fizeram para reverter a sua agonia. Algumas iniciativas particulares, como o Rival BR, foram o soro, o sangue que faltava para que o local voltasse apresentar sinais vitais. Depois veio o Odeon BR, o Teatro da Justiça Federal e a nova programação do Teatro Municipal. Mais recentemente o Bola Preta vem abrindo suas portas para festas animadas, o que aumenta a circulação pela praça, antes suja e deserta. O chamado renascimento da vizinha Lapa e a revitalização da rua da Carioca, também influenciam na lenta recuperação da moribunda. Podemos dizer que a velha Cinelândia saiu da UTI e foi para o quarto. Não corre mais risco de morte, mas seu estado ainda é grave.

E o que vi ontem no Odeon, veio confirmar o que que venho notando, já há alguns anos, ou seja, o Rio está voltando a procurar cada vez mais as atividades culturais do Centro. E esta revitalização não é boa somente para quem mora no Centro, mas também para quem mora próximo. Como eu, que fui de bike para o Odeon. E na volta, me lembrei de uma crônica que escrevi uns tempos atrás.

Aí vai...


EU, UMA BICICLETA E A CIDADE



Ontem me dei conta de que já se passou um trio de décadas desde aquela noite em que fiz amor com a cidade.
Ainda me lembro do calor seco de Fevereiro, do cheiro de maresia vindo no vento norte, a voz do Cid Moreira no Fantástico e uma bonança de tédio (Que saco! Amanhã é segunda-feira), antes da tempestade de desespero (Meu Deus! Amanhã é segunda-feira!). Hoje, eu poderia tomar um porre e amanhecer na sarjeta. Minha mãe tirava a mesa do jantar e eu não queria aceitar a idéia de que o que restava do meu fim de semana era deitar e amanhecer para o primeiro dia de aula, no Colégio Pedro Segundo.
Num ato de desespero, saí. Peguei a minha bicicleta e fui em direção à praia. Com a energia dos meus quatorze anos, atravessei o Aterro em poucos minutos e logo cheguei no MAM. De repente, diante de mim estava uma passarela que me faria atravessar as pistas dos carros e me despejaria nas ruas sombrias do Centro. A silhueta dos prédios escuros não eram muito animadoras. Mas, para trás estava o despertador, o meu uniforme escolar já na cadeira do quarto, a voz do Cid Moreira. Deveria eu seguir em frente? (ao longe, ouvia-se o relógio da Mesbla, que mais parecia o Big Bem de uma Londres sombria. Sim, haveria um Jack Estripador a minha espera, logo ali no Castelo) Deveria eu voltar? (os cadernos encapados; minha de camisola, fazendo gargarejo com Malvatricin; meu pai, de pijamas, assistindo aos gols do Fantástico)
Foi no auge da dúvida que ouvi a voz da cidade. Ela disse: “Venha. Não tenha medo. Eu protejo você.”
E que voz sensual. Nenhuma Paola ou Michele ou Lou do telesexo conseguiria ser tão sedutora. Vou repetir: eu tinha quatorze anos. E quando dei por mim, já estava na avenida Beira Mar.
Não me lembro de muita coisa. Lembro-me sim do medo, no início, enquanto eu pedalava por ruas sombrias e desertas. Poucas pessoas, poucos carros. Ruas sóbrias, semidesertas, uma multidão de possibilidades. Enquanto eu seguia, o medo saiu de cena e subiu ao palco, um sentimento de liberdade que poucas vezes experimentei. Fui parar na praça quinze, com aquele forte cheiro de peixe vindo do mercado que ainda funcionava ali. Que barato! Sete de Setembro, Ouvidor, Rosário, Primeiro de Março. Que tal, andar na contra-mão, na Presidente Vargas?
E a cidade disse: “Sim, experimente! Vai fundo! Você pode tudo!”
Fui parar na praça Mauá. Marinheiros bêbados, putas de mini-saia. Caralho! Amanhã é segunda-feira. Foda-se! Que tal andar sobre as calçadas de pedra portuguesas? Que tal ir até a praça Tiradentes? A Lapa? A Cinelândia?
“Você pode. Não se preocupe, eu protejo você.”
E eu acreditei. Sim, a cidade era minha. Eu podia ir para onde eu quisesse. Eu tinha quatorze anos e a cidade me pertencia. Pouco tempo antes, eu havia sido apresentado ao orgasmo. Mas o que a cidade me proporcionou naquela noite havia sido muito mais indecifrável e infinitamente mais prazeroso.
Voltei para casa exausto, mas sorrindo um sorriso de quatorze anos. Durante algum tempo aquela noite ficou em minha mente. Até ser substituída por outras noites inesquecíveis.
Só ontem voltei fui me lembrar dela. Por sinal, também era domingo e também fazia calor. E por sinal a mesma bonança tediosa, antes do temporal estava lá. Se há uma coisa que não mudou nesses trinta anos foram as segundas-feiras. Eu sentia um sentimento assim tipo daria-tudo-pra-pegar-a-bike-e-sair-por-aí. E saí. Que tal fazer a mesma loucura de 1974?
Fiz. Ou quase. Pois quando cheguei na velha passarela do MAM. A cidade me disse:
“Não vá. Volte. Não posso mais proteger você.”
A voz era a de uma mãe. Doce, cansada, melancólica.
“Você não sabe o quanto me dói dizer isto. Mas, volte.”
“Mas eu quero.”
“Você não deve.”
“Por quê?”
“Você não lê os jornais, não sabe como mudei?”
Fiquei em silêncio.
“Eu daria tudo para vê-lo novamente me possuindo. A adrenalina correndo pelas suas veias; você correndo pelas minhas ruas. Lamento, mas não pode rolar mais isso entre nós.”
“Eu ainda te amo.”
“E você me amaria menos se eu lhe pedir que volte, que não insista, que não confie mais tanto em mim?”
Fiquei novamente em silêncio. O que dizer para uma cidade numa hora dessa?
E voltei.


SABADO, 10 DE SETEMBRO...

Sarau de Santa
Às 18h, na LIVRARIA LARGO DAS LETRAS.Largo dos Guimarães.
CONVIDADOS:
Marcelo Moutinho; Flavio Izhaki, Henrique Rodrigues e Diana
Hollanda.

Estarei lá