quarta-feira, agosto 31, 2005

E MAIS BALA...



Então ei-la aqui afinal, essa coisa distinta.
Henry James sobre a própria morte

AND WHEN WE DIE
ALL’S OVER. THT IS OURS.
AND LIFE BURNS ON
THROUGH OTHERS LOVERS, OTHERS LIPS
HEART OF MY HEART, OUR HEAVEN IS NOW, IS WON!

RUPERT BROOKE
Direita? Uma rua pode ser direita, uma régua pode ser direita. Mas o coração humano...
A maravilhosa Blanche Dubois, respondendo a sua irmã, Stella que reclamava por ela não se comportar como uma moça direita, em Um Bonde...
E tome bala...
SEM PROGRAMA PARA O PRÓXIMO FERIADO?
A DICA FOI EXTRAÍDA DO SITE CULTURA HOJE...

O Sebo Baratos da Ribeiro promove dia 7 de setembro o Dia dos Independentes, com uma série de eventos literários para animar a turma que curte um bom livro. O sebo abre as portas para receber a L.E.I.A.-M.E ! [Literatura Exigindo Inteira Atenção - Malditos Escritores !].
Haverá leitura de contos inéditos dos escritores do Aglomerado Terra Plana (Campos dos Goytacazes, RJ) e do coletivo Patife (Belo Horizonte, RJ) acompanhados por um combo musical (baixo, violão e trompete).
Esta será sua primeira aparição no Rio de Janeiro. O título desta apresentação é uma sutil homenagem a José Cândido de Carvalho, também campista, autor de Olha pro céu, Frederico! Entre os textos escolhidos, estão os de João Filho – autor de Encarniçado, que esteve na última Flip -, Jorge Cardoso, Löis Lancaster, Rocca Stockler, Carolina Tappa, Cassiano Viana e Mara Coradello. A Mutável Saralho Band, grupo que irá verbalizar os contos, terá como intérpretes Danielle Brandão, Cassiano Viana, Jorge Rocha, Löis Lancaster, Marina Andrade e Luiza Toschi, além de Simone Pedro.
E o encerramento será por conta do Fino Coletivo, um espetáculo de canções & causos reunindo dois compositores cariocas e três compositores alagoanos. O cidadão do mundo, com especial carinho por Maceió, Wado (da banda Realismo Fantástico) e o carioca da gema Marcelo Frota (que assina o belíssimo disco Bom que vocês vieram) coordenam a roda de quase ou mais-que sambas, puxados por bateria mansa, programações eletrônicas singelas e um contrabaixo maroto. Música Popular de Bacana que sabe que uma pitada de rock, breque, fossa, bossa, bolero e ginga podem todos acrescentar sabor a uma bela canção.
Serviço
Dias 7 e 8 de setembrono Sebo Baratos da Ribeiro
Leitura de contos com os novíssimos escritores do portal literário Patife.art.br e do Aglomerado Terra Plana.
Com encerramento musical por conta doshow do Fino Coletivo (quarta-feira, dia 7)DJ Marcelo Larossa (quinta-feira, dia 8)
quarta-feira (feriado), a partir das 18h
quinta-feira, a partir das 19h
Sebo BARATOS DA RIBEIRORua Barata Ribeiro 354, Copacabana(pertinho do metrô Siqueira Campos)Tels. (021) 2549 3850 ou 2256 8634

segunda-feira, agosto 29, 2005

POST DO AMOR


Nem que eu caminhasse às três da manhã
Nem que eu me enganasse prá ver o que é bom
Nem que eu caminhasse até o Leblon
Não iria encontrar
Você navegando os mares da Espanha
Tecendo prá outra seu corpo com manha
Você navegando o vazio da Espanha
E eu no Leblon
Loucura é loucura não me compreenda
Loucura é loucura pior é a emenda
Loucura é loucura não me repreenda
Eu amei demais
Você quando acorda tem gente do lado
Mas eu quando durmo é um sono abafado
De uísque e vergonha
Por nunca encontrar você...
Ainda insiste na experiência
Pensando que o amor é como a ciência
Amantes diversas não vão trazer nada a mais
Loucura é loucura não me compreenda
Loucura é loucura pior é a emenda
Loucura é loucura não me repreenda
Eu amei demais
Nem que eu caminhasse de volta prá casa
Deixando as mentiras e os sonhos prá trás
Tentando viver o real de um amor
Que se deu demais
Nem que eu caminhasse às seis da manhã
Nem que eu me cegasse prá ver o que é bom
Nem que eu rastejasse até o Leblon
Não iria encontrar....
Mares da Espanha, de Ângela "Escândalo" Ro Rô, que está ótima todas as quintas, às 22h, no Canal Brasil.
Dedico a todos que conheceram o inferno, durante uma madrugada, por causa de um amor.

Tal como a sombra, o amor corre de quem o segue; foge, se o perseguis; se fugis, vos persegue.
Shakespear, em As alegres comadres de Windsor - Ato II, Cena II, Ford
O amor é o efeito colateral do sexo.
Domingos de Oliveira no seu filme Separações.

O homem só é livre, não quando obedece aos seus impulsos e sim às suas escolhas.
Up
Depois não digam que não avisei
Terminam na quarta, dia 31, as inscrições para o Livro Aberto, encontros literários e leituras dramatizadas, que serão promovidos todas as terças de setembro. Eis o calendário:

6/9 – Ferreira Gullar
13/9 - Carlos Nascimento Silva
20/9 - Alberto Mussa
27/9 - Luiz Ruffato

A entrada é franca e as inscrições podem ser feitas das 12h às 18h atravésdos tels.: 2588-3366 ou 2588-3368.
MAIS DICA DE CONCURSO (ISSO AQUI JÁ FOI UM BLOG DE RESPEITO. AGORA, TÁ PARECENDO AQUELE JORNALZINHO...):
I PRÊMIO EDITORA FÁBRICA DE LIVROS
CONCURSO LITERÁRIO – Ano/2005
A Editora Fábrica de Livros lança, em 2005, seu 1º Concurso Literário anual. São candidatos ao Prêmio autores que tenham imprimido seu livro através do Projeto Fábrica de Livros e que inscrevam sua(s) obra(s) em qualquer um dos gêneros previstos no Regulamento. As obras serão julgadas por um Júri formado por personalidades ligadas ao mundo literário e a premiação será em novembro próximo.
REGULAMENTO
1. Sobre as Inscrições
1. A obra a ser inscrita no concurso já deve ter sido impressa pelo Projeto Fábrica de Livros;
2. A obra inscrita não deve apresentar qualquer vínculo com outra Editora – e é de responsabilidade do autor, no ato da inscrição, assinar um Termo/Declaração confirmando o não vínculo contratual de edição da obra especificada com qualquer outra editora;
3. A obra deve ser inscrita pelo próprio autor, em qualquer um dos gêneros do Regulamento, de acordo com as definições adotadas e mediante a comprovação documental de sua autoria, através de cópias da Identidade e do CPF;
4. No ato da inscrição o autor deve apresentar 03 exemplares da obra, para a análise pelo Júri. Esses exemplares não serão devolvidos no final do Concurso;
5. No ato da inscrição o autor se compromete a entregar, no caso de sua obra ser uma das premiadas, o respectivo arquivo digital, no formato padrão Fábrica de Livros, para a tiragem-prêmio;
6. Fica estabelecido que qualquer alteração/modificação no conteúdo de uma obra inscrita, durante o período do concurso, a tornará EXCLUÍDA do mesmo, sendo a obra DESCLASSIFICADA automaticamente;
7. Cada obra poderá concorrer somente a um gênero, com exceção das Coleções, em volumes desmembrados;
8. Obras em co-autoria deverão ser inscritas apenas por um dos autores, com a autorização expressa do(s) outro(s) autor(es). Se o livro for vencedor em seu gênero, ambos (ou todos) os autores receberão um só troféu;
9. Não serão inscritas obras de autores já falecidos;
10. Não podem concorrer ao Prêmio as obras traduzidas;
11. No gênero 1.3 (Poesia) não poderão concorrer as Antologias;
12. Para a oficialização da inscrição será necessário: a entrega de 03 exemplares da obra impressa pela Fábrica de Livros, o preenchimento da ficha de inscrição, a assinatura do Termo/Declaração do não vínculo com outra Editora e o pagamento de uma taxa de R$ 30,00 (trinta reais).


Local e Horários das inscrições: na Fábrica de Livros, Rua São Francisco Xavier, 417, Maracanã - das 9h às 17h;


Período da Inscrições: 12 de maio de 2005 a 21de outubro de 2005.
2. Gêneros Literários Concorrentes
2.1 - Melhor livro de Romance
2.2 - Melhor livro de Contos e Crônicas
2.3 - Melhor livro de Poesias
2.4 - Melhor livro Infanto-Juvenil
2.5 - Melhor livro Acadêmico (textos acadêmicos de naturezas diversas: ensaios, tratados, teses, dissertações, monografias).
2.1 Descrição Gêneros Literários
· Romance: narrativa ficcional (em geral longa), que pode ou não mesclar elementos do mundo real.
· Contos e Crônicas:
a) Conto: narrativa curta, em geral, ficcional;
b) Crônica: narrativa curta, baseada geralmente em assuntos do cotidiano, de interesse geral. Caracteriza-se pela transitoriedade dos temas abordados;
· Poesia: texto sintético com alto grau de poeticidade. Caracteriza-se, fundamentalmente, pelo ritmo, sonoridade e outros recursos intrínsecos à criação literária;
· Infanto-Juvenil: texto ficcional ilustrado, ou não, que pode, ou não, mesclar elementos do real. Destinado ao público infanto-juvenil (infantil e adolescente);
· Acadêmicos: ensaios, tratados e textos acadêmicos que fundamentem ou descrevam conceitos a respeito dos temas específicos (teses, dissertações e monografias).


3. Como Participar - Procedimentos e Valores

a) No ato da inscrição o(s) autor(es) deverá(ão) preencher pessoalmente todos os campos da Ficha de Inscrição e assinar o Termo/Declaração de obra sem vínculos com outras Editoras, ambos disponíveis na Editora Fábrica de Livros;
b) No ato da inscrição o autor deverá apresentar cópia dos documentos de Identidade e CFP para serem anexados à Ficha de Inscrição;
c) No ato da inscrição o autor deverá apresentar 03 exemplares de sua obra, impressa pela Fábrica de Livros;
d) O autor deverá efetuar o pagamento de uma taxa, na Tesouraria do SENAI Artes Gráficas, ou efetuar um depósito bancário, no Banco do Brasil, Agência 0288-7, C/C 60799-1, em nome do SENAI CFP de Artes Gráficas. Nesse último caso, o comprovante de depósito bancário deve ser apresentado à Editora, para oficializar a(s) inscrição(ões);

e) A valor da taxa de inscrição, por obra inscrita, é de: R$ 30,00 (trinta reais);

f) Se inscritos em gêneros distintos, os volumes desmembrados de uma mesma Coleção, serão considerados como obras específicas, correspondendo cada um a uma taxa de inscrição.
4. Julgamento
As obras serão analisadas por 2 jurados/especialistas (por gênero), que selecionarão a melhor obra concorrente, atribuindo uma nota (de 1 a 10). Serão escolhidas vencedoras do Prêmio 2005, em cada um dos Gêneros, as obras que atingirem as melhores notas.

Serão premiadas as obras que obtiverem a maior pontuação,
em cada um dos gêneros

5. Premiação
O 1° lugar, de cada Gênero, receberá o Troféu Prêmio Literário Editora Fábrica de Livros e o direito a impressão gratuita de 200 exemplares do título premiado, nos padrões editoriais do selo Editora Fábrica de Livros, que incluem o apoio editorial, o evento de lançamento, a divulgação e a distribuição dos livros.

sexta-feira, agosto 26, 2005

UM MÊS DE BALA


“A mulher virtuosa é triste e seca”
Nelson Rodrigues


“The Man in a suit has just bought a new car from the profits he made from our dreams”
Steve Winwood, do Traffic, na música The Low Spark of The High Heeled Boys, 1972. Ele resume toda a choradeira da minha geração a respeito da crueldade do mundo capitalista.


“Eu não fumo, não bebo e não cheiro. Meu único defeito é que eu minto um pouco.”
Tim Maia
“Menos ama quem só fala de amor”
Shakespeare, em Os Dois Cavaleiros de Verona


"Às vezes, Deus age tão rápido!"
Blanche Dubois, em Um Bonde Chamado Desejo

Uma Peça que é uma bala



No seu filme Na Companhia de Homens (In the company of men, 1997), ganhador do prêmio de melhor filme nos festivais de Sundance e de Nova Iorque, Neil Labute conta a história de dois marmanjos – no caso, dois executivos -, que, para espantar o tédio de uma viagem de negócios, decidem iludir uma jovem surda-muda, dizendo que ambos estão apaixonados por ela. Só por diversão. Você achou esta história suja e cruel? Então, passe bem longe do auditório da EMERJ, nesta terça-feira, 30, quando será apresentada a peça Baque, do mesmo americano de Detroit. Aliás, a primeira de Neil a ser encenada no Brasil.
Baque é ótima a partir do nome. Pois é justamente isso que todos receberão em dose tripla durante os quase cento e vinte minutos da peça. São três pequenos dramas (Ifigênia, Bando de Santos e Medéia Redux) que mostram nada mais do que seres humanos. O mais surpreendente neste texto, ou nos textos, é o fato de tratar não de psicopatas ou marginais monstruosos. Mas sim de pessoas comuns que são surpreendidos com o que são capazes de fazer ao se verem em determinadas situações. Vale a pena conferir. Após o espetáculo, ainda haverá debate com o psicanilista Joel Birman.

Eis a ficha:
Elenco: Deborah Evelyn, Carlos Evelyn e Emilio Mello.
Direção: Monique Gardenberg
Tradução: Geraldo Carneiro
Classificação: 14 anos
Data e Horário: 30/8, às 19h - Apresentação Única! Entrada Franca!
Os ingressos serão distribuídos a partir das 18h
Local: EMERJ - Av. Erasmo Braga, 115 - 4° andar – Centro – RJ (Prédio do Fórum Central)Informações: Cultural EMERJ, das 12h às 18h 2588-3366/ 2588-3368 /mailto:emerjcultural@tj.rj.gov.br / www.emerj.rj.gov.br Realização: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – TJERJ Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ Cultural EMERJ

"E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda. "

Trecho do lindo conto inédito de Caio Fernando Abreu, Para um Roxo Dia de Sol de Fevereiro, que está no site Paralelo. Confiram.

“As bailarinas não davam a mínima para o morto. Eu devaneava, vendo-as patinar lentas, no gelo azul. Uma, duas, três, cinco, dez. Patinavam juntas, em linha vertical, no início. E na forma de um V, depois. Uma retardatária apressava-se para juntar-se às outras. E todas seguiam sem se preocupar com nada além de si mesmas.
Um homem e uma mulher se amavam. O primeiro filho estava a caminho. A gravidez tornou-se complicada e os médicos, então, aconselharam o aborto. Mas a felicidade havia tornado o casal arrogante e tal hipótese foi descartada. Nada poderia dar errado, pensavam. A mulher acabou morrendo durante o parto. O menino nasceu saudável, mas morreria dezenove anos depois em um estúpido acidente de moto. E o homem seguiu a sua vida, sozinho e infeliz.
Este homem sou eu e as gaivotas não ligavam para mim. Nem para o morto. “

Assim começa o Arte de Odiar. O Meu romance policial

DICA DE CONCURSO

O Concurso de Contos e Poesias - Prêmio Cataratas, abre a partir de segunda-feira, as inscrições para a edição 2005 do evento.
Com o objetivo de estimular poetas e contistas a produção literária em toda região e nos países que integram o Mercosul, o concurso premia os três melhores trabalhos de cada categoria. Instituído pelo Decreto nº 7.623, de 05 de março de 1991, o prêmio é aberto para escritores de toda região.
As inscrições seguem até 23 de setembro de 2005. Os interessados devem enviar somente um trabalho para cada categoria, escritos em português ou espanhol. Os trabalhos devem vir acompanhados de dados pessoais do autor endereçado à Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, rua Benjamin Constant, 62 - 85.851-380 - Foz do Iguaçu – PR - Concurso " Prêmio Cataratas ".
A obra deverá ser identificada somente com o título e pseudônimo do autor, em quatro vias impressas em folha A4.
Serão conferidos prêmios aos três primeiros colocados de cada categoria e ao primeiro colocado local . A premiação vai de R$1 mil a R$500. Os 10 primeiros colocados de cada categoria receberão Certificado de Participação.
O resultado do concurso, assim como o regulamento serão divulgados na imprensa local, na Sede da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e no site: http://www.fozdoiguacu.pr.gov.br/ .
A seleção dos trabalhos acontece de 3 de outubro, a 27 de novembro. A premiação será divulgada dia 1º de dezembro.

**Obrigado a todos que levaram bala neste primeiro mês. Principalmente aos que reagiram com comentários.



quinta-feira, agosto 25, 2005

O BAIRRO DAS QUATRO LETRAS...

“Um autor só é autor no momento em que escreve. Depois, ele passa a ser um leitor a mais da sua prórpia obra.”
Autran Dourado

“Essas garotas transam com você numa noite e já acham que podem dançar contigo.”
Jonh Travolta interpretando Tony Manero, em Os Embalos de Sábado À Noite. Uma frase que resume aquele louco final da década de 70
“Pode os homi vir
Que não vão me abalar
Os cães farejam medo
E logo não vão me encontrar”
Me Deixa - O Rappa
Porque eles são cria da Lapa
Amanhece em Jeriquaquara/CE


É de manhã
È de madrugada, é de manhã
Não sei mais de nada
É de manhã, vou ver meu amor
É de manhã
Vou ver minha amada, é de manhã
Flor da madrugada, é de manhã
Vou ver minha flor
Vou pela estrada
E cada estrela é uma flor
Mas a flor amada
É mais que a madrugada
E foi por ela que o galo cô-cô-rô-cô
É de manhã – Caetano Veloso


Não sei por que, mas sempre que ouço esta música me lembro da Lapa. Aliás, eu sei sim. Há muitos anos, um amigo meu havia brigado com a namorada. Então, numa madrugada, ele e outros da faculdade saímos do Nova Capela e resolvemos subir até Santa Teresa para fazer uma serenata. Em estado normal, eu nunca pagaria um mico desses. Mas estávamos, para ser modesto...bêbados. Enquanto subíamos a rua Monte Alegre, pensávamos no que iríamos cantar. O Magnus, amigo nosso que tocava chorinho, começou a dedilhar essa É de Manhã no violão. O que tinha tudo a ver. A manhã já estava prestes nascer e o Paulinho – o namorado rejeitado – iria mesmo ver mesmo o seu amor.
Bem, fizemos a tal serenata. A Aninha, a namorada cortejada, dividia uma casa com mais três amigas e acordou de mau humor, e começou a brigar feio com o Paulo. Foi constrangedor. Deixamos os dois quebrando o pau. Voltamos para a Lapa no primeiro bonde, enquanto o dia amanhecia e eu me perguntava em quantas mulheres não gostariam de ser despertadas com este poema do Caetano. O Magnus disse que “Se ela está puta com o Paulo, tudo bem. Mas respeite a música, porra!” E estava certo.
Isso aconteceu há muitos anos. Paulo e Ana se casaram.
Com pessoas diferentes.
Eles não se mereciam.






Foto de José Lins do e-vista.fot.br
Muvuca na Lapa. Embora a muvuca tenha mudado um pouco para outros points, como os arredores da Tiradentes, por exemplo, a Lapa continua... Lapa. Em nenhum outro lugar do mundo, punks, muderninhos, velinhos, patricinhas, travecos, sem-teto, malucos, gringos, hippies, caretas, mauricinhos, artistas, tarados, putas, bebuns, gente cult, vagabundos, boêmios, enfim, todas as tribos poderm conviver pacificamente. Mesmo não se aceitando. Se você nâo se achar na Lapa, se mate.



Onde eu eu estava? Ah, sim...
De qualquer forma, eu contei eaquela história lá em cima porque estive na Lapa ontem, depois de algum tempo afastado da noite.
Comecei a freqüentar a Lapa nos anos 80. Bem antes desse atual “renascimento”. Digo entre aspas porque, para mim, a Lapa nunca morreu. Na época áurea do Circo Voador, ao final do show, as pessoas fugiam para outras bandas. Ser visto na noite da Lapa pegava mal. Após o Circo, eu ia para o Nova Capela ou o Bar Brasil ou o Nova República ou para um boteco qualquer, onde se podia escolher uma mesa com calma. Escolhia-se vaga para estacionar. Fila era uma coisa tão rara, quanto alguém com pressa.
Não sou saudosista. Acho que a Lapa está melhor hoje. Embora sinta saudade daquele gosto de transgressão que era o ato de ir à Lapa. Ao responder a pergunta “Qual é a boa pra hoje à noite??” Ninguém diz “eu vou à Barra” ou eu vou “eu vou à Ipanema. Hoje, ainda se responde: “Eu vou â Lapa.” Por que ir ao bairro das quatro letras ainda é, por si só, um programa. Nem que seja apenas pra caminhar. Mas hoje virou moderno, fashion, cult, cool. Na minha época, era coisa de vagabundo, maluco, viado, boêmio decadente ou gente que gostava de amanhecer vomitando na sarjeta.
De qualquer forma, amo a Lapa e até fiz uma crônica sobre ela. A Lapa de ontem e de hoje.








A Lapa
Está voltando a ser a Lapa
A Lapa
Confirmando a tradição
A Lapa
É o ponto maior do mapa
Do Distrito Federal
Salve a Lapa!

O bairro das quatro letras
Até um rei conheceu
Onde tanto malandro viveu
Onde tanto valente morreu
Enquanto a cidade dorme
A Lapa fica acordada, acalentando quem vive de madrugada

A Lapa
Composição: Herivelto Martins e Benedito Lacerda










quarta-feira, agosto 24, 2005

E TOME BALA

Puritanismo: O Insistente medo de que alguém, em algum lugar, possa ser feliz.
H.L.Mencken, Jornalista Americano, Sobre A Lei Seca.



“O homem virtuoso se contenta em sonhar com o que o homem perverso realmente faz.”
Platão



“A mentira é um poço sem fundo.”
Elizabeth Taylor diz isso em De Repente no Último Verão


“A infelicidade é tóxica”
Eu, num despertar mau humorado






Quer mais bala? Tome!!!


Dicas Literárias






Dennis Lehane já é conhecido dos amantes da literatura policial moderna. Nascido no subúrbio de Dorchester, Boston, este cidadão de 42 anos, fez grande sucesso no ano passado por aqui com Sobre Meninos e Lobos, que na mesma época chegou às telas, com Sean Penn, no papel principal. Este Gone, baby, gone, é anterior. Embora sem a contundeência do primeiro, Lehane consegue prender o leitor, principalmente a partir da metade do livro. Aliás, este é o seu principal defeito: o tamanho. Será alguma exigência das editoras americanas? Mas Gone...talvez conseguisse render muito mais com uma lipo que lhe tirasse umas cem páginas.
Assim como em Sobre Meninos...., este lançamento da Companhia das Letras, gira em torno do desaparecimento de uma criança. Só que neste caso, a menina Amanda MacCready não entra tem nenhuma participação na história a não ser a de desaparecida. Os protagonisatas são os detetives Patrick Kenzie e Ângela Gennaro, encarregados de investigar o desaparecimento. Ser humanos com seus medos, inseguranças e que cometem erros.
O que mais surpreende em Lehane é a construção do perfil psicológico dos personagens, a forma carinhosa em descrever a sua cidade natal e a caracterização dos tipos que habitam Boston, que chega a ser quase que poética. Em seguida, vai um trecho que é um exemplo de perfil psicológico bem definido. De qualquer forma, Vale a pena dar uma conferida nesse romance maduro e bem elaborado.


“A coisa funciona mais ou menos assim. Uma mulher inteligente, bonita e com amor-próprio entra num lugar como esse, e os homens põem os olhos naquilo que nunca tiveram e nunca poderão ter. Então eles são forçados a encarar as deficiências de caráter que os levaram a um lugar sórdido como aquele. Imediatamente, raiva, inveja e desgosto irrompem em seus cérebros atrofiados. E eles decidem fazer que a mulher pague – por sua beleza e, principalmente, por seu orgulho. Eles resolvem dar o troco, prendê-la contra o balcão, cuspir e vomitar nela.”


Mudando completamente de clima, O Assassino Em Mim, não se trata de um lançamento e sim, de um relançamento que é super bem-vindo. James Meyers Thompson (o senhor da foto acima), nascido em Oklahoma, não é bonzinho e nem carinhoso, muito menos poético. Seu universo é feito só de prostitutas, desajustados, bêbados, traficantes ou qualquer personagens do submundo. Estes são apenas perfumaria nos seus romances imorais, cínicos e violentos. Seus protagonistas, transitam pela superfície, através de golpes e de disfarces incríveis e estão dispostos a tudo para sobreviver na sociedade, como ciadãos aparentementecomuns.
Foi assim em Os Imorais, que virou filme de sucesso em 1990, com a inesquecível Angélica Huston. Foi assim em Os Implacáveis. E não é diferente neste relançamento da Ediouro, que fala sobre um psicopata. Mas não um psicopata comum. Ele é o xerife da cidade. E até cometer o seu erro, ele é visto como um cidadão modelo.
Todo narrado na primeira pessoa, O Assassino em mim, mergulha na mente doentia do xerife Corey e mostra de forma assustadora toda a engrenagem que dispara o sei desejo de ferir, enganar, iludir e matar. Chegamos até a nos perguntar como tanta crueldade pode ter saído da mente de um pacato senhor de idade, que faleceu em 1977. Abaixo, dois trechos do livro que mostram a preciosidade com que Thompson descreve a personalidade do monstruoso xerife Corey.
“Por ele o papo terminava aí, mas eu tinha outros planos. Apoiei o cotovelo no balcão, cruzei um pé por trás do outro e dei uma longa tragada em meu charuto. Gostava do sujeito – tanto quanto a maioria das pessoas, é verdade -, mas ele era bom demais para eu deixar passar. Educado, inteligente: caras como aquele são o meu prato preferido.”
Ou
“O sorriso em seu rosto ia ficando forçado. Podia ouvir os sapatos dele rangerem,enquanto se contorcia. Se existe uma coisa pior do que um chato, é um chato piegas. Mas, como enxotar um cara tão legal e tão amigo, que lhe daria a camisa se você pedisse?”
** Eu ainda corro perigo. Minha impressora, meu teclado, minha torre e meu monitor estão realmente tramando algo contra mim. Enquanto enquadro estes elementos por formação de quadrilha e faço um upgrade, o Bala vai ficar uns dois dias desatualizado.
Mas não por falta de munição.
Até o próximo post

sexta-feira, agosto 19, 2005

POST SINISTRO

O Globo - 2003
Existe algo mais assustador?

Sim, este meu conto que foi publicado no site Klick Escritores




DANÇA DO VENTRE



Do sol e do mundo nada sei dizer,
que os homens se atormentam é só o que posso ver.
Goethe
(Poeta alemão, 1749 - 1832)




Por onde anda você?

As mulheres
Depois de um longo percurso
Ficam louras
Como último recurso


Eliane Pantoja Valdya
Da antologia de poesia, crônica e conto Contemporâneos, organizada por Cairo Assis Trindade, em 1993



Fui dar um pulo ali embaixo e volto no próximo post.

ATENÇÃO: Aliás, tenho discutido minha relação com o meu micro. Após entrar em luta corporal com ele, consegui convencê-lo de voltar a funcionar. Mas neste exato momento, ele está me olhando de modo sinistro. Por isso, se não houver post nos próximos dias, comuniquem à polícia e digam que não foi acidente.

segunda-feira, agosto 15, 2005

RAPIDINHAS




"(!!!)"
Praia do Francês/AL - Neste país, apesar de tudo, salva-se a natureza...
“Nem todo mundo tem o dom de odiar.”, Mayrah parecia excitada, “Quero dizer, odiar mesmo, entende? Saber construir um palácio de felicidade com os escombros do inimigo. A arte de odiar não está no mal que causamos e sim em quanto tempo conseguimos enganar, iludir... o mestre na arte de odiar vive até nas profundezas do amor. Como um tubarão. Você olha aquele mar azul, lindo! Mas lá embaixo, sob aquela beleza toda, está o ódio. O ódio nos faz crescer, nos fortalece. Não importa o preço que se tenha que pagar. Tudo na vida tem um preço!”, cada vez mais excitada: “O ódio me deu forças pra fazer o que fiz. Dormi com homens terríveis. Mas sempre tirei algo deles. Dei pra bandidos, bêbados, doentes, loucos. Fui currada; apanhei e também bati muito; fui obrigada a amar mulheres diante dos seus maridos, a permitir que mijassem em cima de mim. Fui fodida por três, cinco, dez ao mesmo tempo. Pirocas enormes esporraram na minha cara. Pouca gente suportaria passar pelo que passei...”

A puta Mayrah, justificando o título do meu romance policial, A Arte de Odiar.

“Não saio com mulheres famosas, pois não pago acima da tabela.”


O grande filósofo Tim Maia.

“Prefiro os malvados aos imbecís. Porque os malvados, às vezes, descansam.”

Grande Alexandre Dumas Filho!





Festinhas do Bem

Eu acabei de me convencer de que sou mesmo um primata do período paleozóico. Na minha juventude, bem antes da AIDS, fui a algumas festinhas onde os primatas tiravam a roupa. Pois a matéria de Nina Lalli, no Village Voice da última sexta-feira, dia 12, mostra que a a nova moda entre os jovens novaiorquinos neste verão é as chamadas clothes -swapping party—STAT, ou seja, festinhas em que as pessoas vão para trocar roupas. Na terra do consumismo e da opulência, isto me parece uma boa idéia. Pega-se aqueles sacos e bolsas cheias de roupas velhas que você há anos diz que vai dar aos pobres e nunca o faz, e reúne amigos que tenham o mesmo problema para fazerem uma divertida troca. Sua casa vira um brechó. Só que com comidinhas, amigos, música. Não há grana envolvida, é tudo troca mesmo.Então, fiquei pensando...e se fizesse o mesmo com livros. Afinal, nem sempre despertamos pelos livros que compramos, algum valor sentimental. A idéia não seria nova, pois a Suzana Vargas há anos já promove o Livros Na Mesa, onde há uma troca de livros que ocorre paralelamente ao encontro de um autor.Mas bem que essa ótima idéia poderia ser ampliada e ocorrer em todos esses saraus, encontros, rodas de leitura e eventos literários que há por aí.
Dica de ConcursoJá estão abertas e vão até 30 de setembro, as inscrições para o 16o. Concurso de Contos Paulo Leminski. Os prêmios vão de R$ 500 a R$ 1.300., respecitivamente, do quarto ao primeiro colocado. Aqui vai uma minuta do edital, e maiores informações devem ser obtidas nas páginas: www.unioeste.br/eventos/pauloleminski2005/.O Concurso destina-se a todas as pessoas interessadas. Cada concorrente poderá participar com apenas um trabalho inédito, de TEMA LIVRE que ainda não tenha sido premiado em outro concurso.Consideram-se inseridas as obras entregues sob protocolo ou enviadas pelos correios (em registro com A.R.), endereçadas à Unioeste/Campus de Toledo ou à Biblioteca Pública Municipal.Unioeste/Campus de Toledo/PR.R. da Faculdade, 645 CEP 85903-000Caixa Postal 250 Toledo/PR.Biblioteca Pública Municipal de ToledoAv. Tiradentes, 1165 CEP 85900 230 - Toledo/PR.O conto deverá ser apresentado em 02 (duas) vias, em língua portuguesa ou espanhola, digitado em espaço 1,5 (um e meio), fonte Arial, tamanho 12 (doze), de um lado só do papel, com o mínimo de 2 (duas) e o máximo de 10 (dez) páginas.Deverá constar dentro do envelope que contém o trabalho outro menor lacrado contendo: título do conto, pseudônimo, nome completo, endereço, telefone, R.G., e-mail e grau de instrução do autor. Na parte externa do envelope, deverá constar apenas o pseudônimo e o título do conto.A comissão julgadora será composta de 7 (sete) membros, de reconhecido nível intelectual, sendo sua decisão soberana e irrecorrível.

E Boa Sorte, meus queridos!


Eu fui ali num instante e volto no próximo post. É uma ameaça.

sábado, agosto 13, 2005

ESCRITORES QUE ROUBAM, O COQUEIRO-AVESTRUZ E TOME BALA, MUITA BALA


Alguém já viu um coqueiro-avestruz? Parece que até a natureza está envergonhada com o cenário político do país
(Foto - Praia do Carro -Quebrado/AL)

Bem, meus queridos. Cheguei de viagem e chapa está quente. E tome bala!!!!

“Oh, desejo! Este bonde seguindo barulhento pelos becos estreitos.”
Blanche Dubois.
Que saudade de Tennessee Williams!


“Sou puta, sim. Mas nasci limpinha como as outras.”


Norma Sueli, de Navalha na Carne. A puta mais maravilhosa do teatro brasileiro. Alô, Plínio!


“O dono deste apartamento deve ser um sujeito gordo e arrogante. Gordo e arrogante! Um cafajeste oportunista e bem nojento. Desses tipos que costumam vencer na vida.”

Ana, a maliciosa personagem da minha peça Esta Noite É Verão No Inferno, está falando sobre o proprietário do apartamento onde mora, mas poderia certamente estar se referindo a algum político que tem aparecido nos noticiários recentes.


“Não confie em garotas tímidas, olhando para o chão. Na verdade, elas estão olhando para o seu pau.”
Susan and Nancy, duas sapatas de Nova Iorque
Mais detalhes, na próxima bala





TODO ESCRITOR ROUBA
Se os nossos digníssimos deputados juram pela mãe que não o fazem. Eu não tenho o menor pudor de afirmar que roubo sim, como todo escritor. Se é que sou um escritor. Mas confesso que roubo para escrever. Já roubei de velhinhas, de crianças, de aleijados, de grávidas, de ceguinhos. Já cheguei a roubar de mim mesmo. E não tenho a menor vergonha de declarar em público. Veja o que mandei para o Digestivo Cultural e que o meu xará Julio Dario postou no último dia 06, fazendo, inclusive, menção a este blog:

BALA PERDIDA
Eu ainda não me considero um escritor. Nelson Rodrigues, provavelmente, diria que estou num estágio assim, assim...mas faço parte dos escrivinhadores que amam escrever. Acredito que todo escritor não passa de um ladrão canalha e sórdido. Quando um escritor vai ao supermercado, ele não vai apenas ao supermercado. Ele vai roubar. Ele tira suas idéias de cenas protagonizadas por pessoa indefesas. Lá estará ele na fila do supermercado com seu olhar astuto de batedor de carteiras. Basta que algum desavisado lhe dê uma chance e...CRAU! Nas ruas, nos bares, nas praias, no metrô. Lá estará ele roubando de senhoras de idade, de mocinhas indefesas, de pais de família, de crianças e até de policiais. Uma sordidez total. Acho que um bom escritor vive disso, pegar as mediocridades nossas de cada dia e transforma-las em arte. Quem manda a gente dar bobeira? Se cada ser humano tivesse o dom de perceber quanta arte existe na existência de cada um, esse gatuno não teria mais razão de ser. Rubem Fonseca tinha razão quando, a certa altura de O Caso Morel, escreve: “Mas que vida ordinária a sua. Advogado, policial e escritor. Sempre com as mãos sujas.”
Não concorda? Então, cai dentro! Acesse o Digestivo pelo link ao lado, confira no post Bala Perdida (06.08.05) e deixe mensagens. Ou mande comentários aqui mesmo. Se concorda, também. Mas faça alguma coisa. Não leve bala calado.
DEU NO NEW YORK TIMES
O último suplemento literário do NYT analisou três livros sobre a proliferação de bases militares americanas no exterior e constatou que existem hoje 725 bases espalhadas pelo mundo e mais 969 em território americano. Alguém tem dúvidas de que Hitler não está dando boas gargalhadas?
Depois disso, só com um pouco de poesia...
APELO
Lá fora, tudo parece estranho.
As ruas gritam como um assobio

- Não saia de casa. Você ainda é muito ingênua.

- É por isso que eu cobro
cem reais a hora.
(A inocência é sempre mais cara.)
O nome do cara é Tolomei. Guilherme Tolomei. E costuma trocar bala aqui.
Sempre prestigiando os novos na literatura, a Bom Texto lançou esta coletâneacom os quarenta finalistas do concurso Contos do Rio, promovido pelo Caderno Proasa & Verso, do jornal O Globo. Entre eles, o vagabundo que vos fala, com um conto que já postei aqui (Vide No Elevador da Paixão).








...A solidão os uniu, o vazio os precipitou no mesmo abismo. Presos um ao outro desabam na sordidez. Ele a protege, defende. Ela o mantém. Mas é tudo provisório, arremedo de salvação. Foi assim desde o começo. Desde que decidiram dividir suas misérias. Trabalham para sobreviver, não têm alternativa. Dinheiro é o que importa. Contas pagas, barriga cheia, roupas novas...Mas isso parece pouco, parece nada. Sobreviver é morrer um pouco ao fim de cada dia. Trabalham à noite. Morrem de dia, na cama de casal, túmulo duplo.
Trecho do conto Condenados
Um dos Contos do Rio
O nome dele é Campelo. Wagner Campelo. Um dos quarenta ladrões...Ops, quarenta escritores. Esse mau elemento também gosta de trocar bala. aqui. E tem um blog, Quase Escritor. Link ao lado.



"Pelo amor de Deus, Will! Vista esta calça! Você é o meu advogado e não o meu dentista!"

O famoso jargão da malvada e pervertida Karen, ao lado na companhia de Madonna, na série Will and Grace da Sony.
As séries americanas, em termos de diálogos, dão um banho em...digamos, 90% dos filmes brasileiros. Diálogos inteligentes estão cada vez mais raros por aqui. Será tão difícil construir um bom diálogo? Sim, mas um pouco de brainstorm faz bem pra pele.
O quê? Não concorda?
O Ministério da Saúde informa: Ficar calado é prejudicial à saúde. Comente.

E pra terminar, uma imagem que já é uma bala...
O canalha, na Praia do Francês/AL.
Roubando, roubando sempre...









A Editora Bom Texto e os quarenta ladrões...ops! Os quarenta contistas.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Guerrilha Urbana






Um Banquinho e Um Conto na Mão...
Na primeira foto, o João Paulo Cuenca e o Augusto Sales. Na segunda, o Marcelo Moutinho. Todos nós lendo contos na noite. Nesta cidade de músculos e bundas, saraus literários são como reuniões subversivas de guerrilherios urbanos na clandestinidade.
Por onde anda você?
“O dia hoje está nublado, um domingo que os cariocas chamariam de triste. Eu gosto de dias assim. È estranho, mas me sinto mais tranqüila nos dias nublados. O sol parece cobrar de mim a felicidade que eu não tenho para oferecer.”

Trecho de carta da personagem deprimida no conto Linhas Tortas, do livro Raiz Quadrada E Outras Histórias, do Ronaldo Wrobel, Editora Bom Texto. Aliás, por onde andas tu, caro Ronaldo?
“O desejo dá importância aos detalhes”


O jovem homossexual R. (não revelava o seu nome porque ainda tinha um resto de reputação a zelar), antes de ser morto a tiros pelo seu próprio desejo, no conto O Caso do Homem que Usava Farda, no meu livro de contos Crimes e Perversões

Mais uma vez lendo contos. Foi no sarau da livraria Largo das Letras, em Santa Tereza. Um covil de pessoas inteligentes, um antro de gente interessante. Guerrilheiros, enfim.
Gabriel Garcia Marquez no topo das listas
Ainda não li o Memórias de Minhas Putas Tristes, o mais recente livro do homem que criou o chamado realismo fantástico latino americano, com o seu cem Anos de Solidão, de 1967. O Memórias vem quebrar um silêncio de anos e, segundo O Globo do último sábado, está em primeiro lugar em vendas. E a boa literatura agradece.
"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía haviade recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo."
A famosa introdução de Cem Anos de Solidão. Grande Gabriel!
Estarei em Maceió até o dia 10.
Não neguem fogo. Continuem mandando comentários, meus queridos.
Um abraço

terça-feira, agosto 02, 2005

Cultura, a velhinha defecando, filhotes de vira-lata, etc


















Eu, Elis e Liana, no Cais do Oriente, minutos antes de eu ver a velinha defecando.

"Sempre fico de olho nos ingênuos. Os ingênuos, românticos e sonhadores serão os futuros amargos, tiranos, mesquinhos e cruéis. Há sempre uma desilusão no meio do caminho.”


O detetive Lacerda, ao ouvir que um determinado suspeito era ingênuo, no meu romance policial, A Arte de Odiar.



Cultura, a velinha defecando e filhotes de vira-latas


A coisa aconteceu assim, um domingo desses, Eu, a Elis e a Liane, fomos ao Centro Cultural Banco do Brasil assistir à exposição de Iole de Freitas. Quatro esculturas gigantescas em metal, tubos de aço e acrílico, que ocupavam várias salas. No folder estava escrito que as obras abordavam conceitos de movimento, velocidade, transparência e leveza. Confesso que não consegui enxergar isso. Ao redor, as pessoas olhavam tudo compenetradas. Mas se eu conseguisse ler pensamentos, certamente iria encontrar coisas como "Qual terá sido o placar do jogo?"ou "Quais serão as pegadinhas de hoje no Faustão?" ou "Será que Lula não sabia mesmo de nada?" ou "Meu Deus! Na Cueca!" Depois , ainda fomos a uma exposiçao, na qual, em tvs, um jovem andava em círculos numa sala, um casal se agride de todas as formas, antes de se matarem, entre outras coisas.
Fomos então para o Cais do Oriente. Pouca gente, ambiente agradável, noite de lua cheia. Entre um petisco e outro, minhas amigas me davam força para criar logo este blog (Bala Perdida foi o nome sugerido pela Liane) E eu pensava...não sei, não...blog...diário na internet...mas eu tenho uma vida tão medíocre!
Quando saímos de lá, cada um foi para um lado e me vi andando pelo Centro da cidade a procura de um táxi. Eis que quando entro na rua do Carmo, lá estava ela. Uma velinha moradora de rua, agachando-se e fazendo, sob os pilotis de um prédio, aquilo que ensinamos aos nossos animais de estimação fazerem em locais apropriados. Pensei no absurdo da situação. Ela estava em casa, a rua era a sua casa. Logo, para ela o absurdo era eu ali, andando pelo Centro numa noitede domingo. Um gatinho se aproximou da velha, miando. E ela passou a acariciá-lo, como se estivessemesmo em casa. Sei que muitos vao me chamar de louco, mas vi uma certa poesia naquela cena. O Rio é a cidade da subversão da ordem. O certo e o errado, aqui, nem sempre faz sentido. Se você nao entendeu o que quero dizer, fique frio.
Logo em seguida, deparei com outra cena que exemplifica melhor o meu pensamento. Havia uma patrulha da PM parada junto à calçada, na rua da Assembléia, na algura da Elle et Lui. Os dois policiais estavam ao lado de um grupo de meninos de rua. Todos estava olhando para o chão. De longe pareciam estar rezando. Mas quando passei por eles, vi que o grupo olhava para uma cadelinha vira-lata que, entre papelões, amamentava três filhotinhos que deviam ter acabado de nascer. Por um momento, parei também paa apreciar aquela cena. Os policiais quedeveriam estar perseguindo meninosde rua, os meninosde rua que deveriam estar assaltando gente como eu e eu quedeveria estar fugindo dos meninos de rua. Todos ali, parados, olhando para a cadelinha amamentando seusfilhotes. Como nao ver poesia nisso?
Voltei para casa pensando em falar tudo isso pra alguém. Mas para quem. Só mesmo num blog conseguria expressar o que aquelas cenas significarma para mim. Naquela memsma noite, então, começava a nascer este blog.
Depois da poesia, tome bala
O episódio da velinha me lembrou um trecho de um dos contos do meu livro Crimes e Perversões. O que escrevi ali, foi baseado em uma outra cena que assisti, numa rua atrás da Praça Tiradentes. Treês putas fazendo paredinha para que uma quarta mijasse na calçada. Depois que o escrevi , achei este trecho sujo demais, pensei até em tirá-lo. Mas ao mostrar a uma amiga, ela falou: "Cara, isto poesia urbana!" A Marcinha mudou a minha visão e acabei o mantendo. Afinal de contas é um livro decontos policiais.
Confira e mande bala.
(Trecho do Conto Ronda, do meu livro Crimes e Perversões)
Na escuridão da rua Luiz de Camões, encontramos o Beléu. Conversava com uma mulher. A mulher se afastou assim que nos viu.
“O que que manda, sargento?”
“Jéssica. Ela esteve com você?”
“Não me lembro.”
Fiquei em silêncio, olhando nos cornos do vagabundo a minha frente. Beléu já me conhecia muito bem pra ficar de sacanagem. “Bate o congo.”
“Tá certo. Ela veio, sim.”
“Quando?”
“Hoje.”
“Atrás de quê?”
“Que fundamento é esse, brother?”
“Atrás de quê?”
“De grana!”
“E aí?”
A mulher que estava com o Beléu conversava alto, na esquina com a Imperatriz Leopoldina. Conversava com outra puta. Falava alto para chamar a atenção do Beléu. Não era uma mulher de perder tempo.
“Ela estava correndo atrás de grana.”, prosseguiu Beléu, “Só que eu estava zerado.”
“Sei.”
“Fui pedir a um camarada meu que é soldado do movimento, lá na Providência.”
“E aí?”
Esperei. Beléu olhou para as putas primeiro.
“O camarada da firma me arrumou algum.”
Esperei. Outras duas putas chegaram pela Imperatriz Leopoldina. Juntaram-se às outras duas. Passaram a conversar ruidosamente. A mulher que estava conversando com Beléu começou a falar mais alto que as outras. Falava e olhava para ele.
“É só isso, mano. Acho que ela foi arrumar a parada em outro ponto.”
“Que parada?”
“Oi?”
“Que parada ela foi arrumar?”
“A grana, mano!”
“E aí?”
“Só isso, mano.”
As putas foram para trás de um carro. Duas delas se agacharam e as outras fizeram paredinha para que as primeiras mijassem na calçada.
“E aí? Quanto ela queria?”
“Muito.”
“Muito quanto?”
“Oi?”
“Quanto ela queria?”
“Era muito. Não consegui arrumar.”
“E aí?”
“Hum?”
“Ela queria grana e tu arrumou o quê?”
“Fumo.”
“Pra quê?”
“Pra passar.”
As putas se revezaram. As duas que faziam paredinha, a mulher que esperava por Beléu e a outra, agora, se agacharam para mijar também. As outras duas, faziam paredinha para elas, ajeitando os shortes.
“Tu acha que a Jéssica tá passando fumo?”, perguntei.
“Oi?”
“Jéssica tá passando fumo?”
“Não.”
“Jéssica não está passando fumo?”
“Não. Ela só estava precisando de grana.”
Um homem bêbado entrou no beco no momento em que Beléu ia dizer mais alguma coisa. Ele esperou o homem passar. Mas não disse o que iria dizer.
“É só isso, mano.”
O homem bêbado brincou com as putas. E elas debocharam dele. Bêbados, viciados e qualquer um que não tem controle sobre si mesmo não merece respeito nas ruas. Todas riram do bêbado. Menos a que esperava por Beléu.
“Tudo bem. Vamos embora.”, falei.
O cabo Rodrigues deu a partida. Beléu se abaixou e falou na janela:
“Aí, vou te dar uma idéia: quando quiser falar comigo, mande recado pelo Branco, na moral, valeu, sangue? Se não tu vai embaçar minha parada.”
“Pau no teu cu!! Não aceito letra de vagabundo. Vá se fuder!”, falei.
“Tudo bem, doutor. Vá com Deus!”
A RP começou a andar. Ainda vi a puta que esperava pelo Beléu olhar para nós com ar preocupado. Porque uma puta pode até sustentar um vagabundo. Mas não um vagabundo que está devendo. Porque um vagabundo que está devendo, vai precisar de mais. E ela pode não ter para dar.
Quartos de hotéis são iguais
Dias são iguais
Os aviões são iguais
Meninas iguais
Não há do que reclamar
Tudo caminha
E as horas passam devagar
Num ônibus de linha
Passos no corredor
Alguém se aproxima
E uma voz estranha diz: "Bom Dia!"
Trecho de Brasília 53, faixa do CD Paralamas Acústico
Ouça a música e veja a foto
Ah, a Foto!
Em Floripa, alguém deixou a sua bike por alguns segundos, para apreciar o entardecer. E um raio de sol veio abençoá-lo por isto.Porque precisamos sempre arrancar poesia das coisas. Seja ao ver uma velinha defecando, uma vira-la amamentando ou um entardecer em Floripa.
E chega de falar em poesia. Tome bala!
Tiroteio
"Puta é uma palavra muito pequena para conter todas as minhas razões."
Odete Escarlate ao ser chamada de puta , na minha peça Esta Noite é Verão no Inferno
Uma puta sabedas coisas
"Mulheres não são para serem entendidas, são para serem comidas."
Lacerda, o detetive, em A Arte de Odiar
"O verdadeiro escritor nada tem a dizer. Tem uma maneira de deizer nada."
Rubme Fonseca, em O Caso Morel
"A Sinceridade é o único tabu nos dias de hoje. Ser sincero é a única coisa que ainda nos choca."
Domingos de Oliveira, em entrevista recente.
Porque foi a coisa mais inteligente que ouvi nos últimos tempos.
Portanto, meus queridos, sejam sinceros.
Aguardo comentários.